-Você estava certa.
-Não estava. Nunca estive. Bom. Agora estou.
-Sempre esteve. Desde o início você disse que eu não era o cara certo pra você.
-Eu estava errada.
Os dois ficamos em silêncio. Passamos tanto tempo discutindo quem estava certo e quem estava errado nesses últimos anos que agora, finalmente, isso já não importava. Não fazia diferença.
-Estar certa não vai trazer você de volta.
-Não, não vai.
-Tem alguma coisa que eu possa fazer pra você ficar?
-Você quer?
-O que?
-Que eu fique. Quer?
-Não.
A gente já sabia. Sabia que já não havia ilusão de que era possível arrumar a bagunça que fizemos. Nem apagar as palavras que usamos pra justificar nossa incapacidade de amar. E agora, no final, éramos mais magoa que amor.
-Quer que eu vá logo?
-Fica mais um pouco.
-Faço café?
-Não. Já fez as malas?
-Fiz. Enquanto você dormia. Uma confissão?
-Claro.
-Roubei sua camiseta azul. Aquela que tem um furinho do lado esquerdo.
-Devolve.
-Não.
Silêncio de novo. Triste realidade de quem já não tem mais nada pra dizer. Será que um dia vamos lembrar com saudade da nossa história? Será que conseguiremos guardar o que existia antes do início do fim?
-Já parou pra pensar que amores eternos acabam?
-Vamos falar de amor? Sério?
-Sério. Amores sempre acabam. Até os que duram quase pra sempre.
-Não quero falar de amor.
-Quer falar de que então?
-De nada.
Um último abraço.
Milhões de palavras desconexas entaladas na garganta nos renderam mais alguns minutos de silêncio.
-Está na hora.
-De quê?
-De você ir.
-Certeza?
-Não. Mas vá mesmo assim.
Alguém gritou alguma coisa na rua e quebrou nossa despedida. Barulho de vida seguindo em frente. Barulho de rodinha de mala pelo chão. Não te vi sair. Você andou. Eu parei.
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