Tem gente que diz desde o início que vai embora, não é?


[Você pode ler este texto ao som de Dancing On My Own]

Foi foda, entende? Eu te pedi tanto, poxa, para que quando você fosse embora deixasse em qualquer canto a porra de um bilhete. Vasculhei a casa inteira atrás de um pedaço de papel e não encontrei um recado sequer. Nada. Nem a porcaria de um tchau rascunhado no verso de alguma lista de compras. Ali, teu, não havia mais nada…

Assim que cruzei a porta da cozinha, sabia que tu tinhas ido embora. Aquela mágica que pulsava no apartamento evaporou-se toda. O vazio gritava alto e logo senti meu coração miúdo, querendo sumir dentro do peito. Não foi preciso abrir o armário e constatar que tuas roupas não estavam lá: a falta do teu perfume, o eco, a brancura das paredes… Tudo, tudo, tudo respirava o fato de você não pertencer mais àquele espaço, de você não preencher mais aquela imensidão. Nosso pequeno apartamento tornou-se colossal.

Eu sentei no chão da sala tateando os pelos daquele tapete que era teu. A lágrima molhou meu queixo, antes que me percebesse chorando. Foram duas, três, oitenta. Torrenciais e silenciosas, o que aumentou ainda mais a imensidão do vazio que pulsava aqui dentro. Remoí lembranças, tentando encontrar o estopim que te fez partir assim tão de repente. Você não vê a merda? A gente ontem estava bem! Nos perdemos naquele lençol azul três vezes e o mundo era pequeno perto da nossa festa particular… Seria uma despedida? Não parecia uma despedida…

Você me contou diversas vezes que um dia você iria embora, porque não havia um amanhã para nós dois. Mas você dizia com tanto divertimento na voz, com tanta malícia no rosto que jurei ser só uma brincadeira de mau gosto, uma tentativa de me tirar do sério. Agora, sozinha nesse pequeno vazio, vejo que todas as tuas falas foram sinceras e concluir isto me dói de maneira imensurável, porque eu acreditava na fantasia que criei para nós dois e acreditava que você era o cara que havia sonhado para mim.

Sozinha e aos pedaços, penso no tudo que você me contou um dia. Nas verdades que você dizia e eu não acreditava, como quando você sussurrou entre meus cabelos molhados que queria me amar como eu merecia, que queria gostar mais de mim. Eu levei ao tom de brincadeira e respondi que não te amava também.

E agora, principalmente agora, queria que esse não amar você fosse tão sincero quanto todas as vezes que você disse que um dia iria embora. Porque você disse e foi. E eu disse que não, mas amo.

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