Carta para um amor que ainda não veio


A gente ainda nem se conhece e não quero que faça mau juízo de mim, já que quem vai direto ao ponto muitas vezes é mal interpretado. Complicar é sempre mais cômodo e torna mais fácil justificarmos depois o porquê das coisas terem dado errado, além é claro, de nos eximir de qualquer culpa.

Mas o que é dar errado, afinal? Se não ficarmos juntos pra sempre significa que deu errado? Acho tão complicado pensar assim. Prefiro acreditar que se virou história é porque deu certo. Se trouxe risadas é porque deu mais certo ainda. E não importa se isso aconteceu por uma semana ou por uma década. A ideia de que uma relação foi um erro só porque não foi pra frente, transforma nosso passado inteiro em um grande equívoco, como se nada de bom tivesse acontecido no tempo que passou.

O que quero te dizer é que às vezes a gente se cansa de sentar em uma mesa de bar e contar a vida inteira pela milésima vez, enquanto tenta conter as próprias expectativas e desvendar os sentimentos alheios. Que dessa vez, só pra variar um pouco, prefiro que me fale sobre o que te trouxe até aqui e não quais são suas bandas favoritas. Com certeza ficarei mais feliz se pudermos ouvir algo juntos enquanto divagamos sobre a vida, do que se simplesmente buscar pelas suas indicações no Spotify e incluí-las em uma playlist que mais se parece a trilha sonora de todos os meus encontros fracassados.

Não preciso que pague a conta, mas queria muito que pagasse pra ver o que pode ou não acontecer. Que se deixe ser real e que não tenha medo, porque se não nos deixarmos levar às vezes, nunca saberemos onde poderíamos ter chegado, se não fosse o receio de aceitar que a vida é essa coisa que flui enquanto fazemos planos que nem sempre se concretizam.

Talvez você estranhe tanta sinceridade logo de cara, mas sabe, acho chato o rumo que as pessoas tomaram quando decidiram esconder o que querem e o que sentem, como se isso fosse um sinal de que são fortes, sendo que ser forte mesmo é ter coragem para enfrentar as situações que a vida nos traz. Que não tenho mais a menor paciência para jogos de ego e todas as suas regras descabidas e que ando um pouco deprimida com a ideia de que entre as milhares de pessoas com as quais cruzo todos os dias, não existe sequer uma disposta a enxergar que vida a gente não divide, mas compartilha com quem acha que está apto a fazer parte dela.

Não sei o que seremos e talvez a gente nunca chegue a conjugar esse verbo juntos, mas sei o que não quero que você seja: indiferente. Por isso, dessa vez me disponho a fazer o contrário do que sempre faço e, ao invés de calar o que penso, te digo que se chegarmos a nos conhecer é porque estou disposta e espero que também esteja. Porque estou aberta à possibilidade de incluir alguém na minha vida pelo tempo que essa pessoa quiser ficar, pois já me despedi tantas vezes que perdi as contas e o medo de morrer após mais um adeus.

Espero que traga consigo a vontade de conhecer mais do que uma superfície, a ouvir mais do que meias verdades e a sentir todos os dias a vontade de me ver uma vez mais. Que possa abrir as portas de casa e as janelas da alma, que entenda que solidão com solidão não se soma, se anula e que às vezes é bom não se armar de tudo o que defende teu coração, porque aquilo que o protege o esconde também.

Que dessa vez seja eu. Ou não. Mas que possamos ao menos tentar, sem que nosso passado atrapalhe e que o futuro nos assuste. Se tudo o que temos é o presente, que possamos vivê-lo intensamente, para que amanhã nossa história não seja vista como mais uma da lista dos “e se”.

Que escolha ser você mesmo no tempo que durar e que se deixe ser intenso enquanto ficar. Que seja reciproco. E que se permita viver algo que pode verdadeiramente te fazer feliz.

Que deseje apostar na possibilidade de não escrever o “era uma vez” sozinho, pelo menos uma vez, talvez dessa, quem sabe? Pois mesmo sabendo que o pra sempre pode acabar amanhã, precisamos dar valor às chances que temos de tentar fazer com que seja diferente.

Eu tô dentro, e você?

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