Quando vejo você por aí, nunca sei o que fazer. Se aceno calorosamente a mão e se só um balanço da cabeça seria suficiente. Nunca sei se devo me levantar para cumprimentá-lo ou se simplesmente ignoro. Essa costuma ser a minha opção… Como sempre fui distraída, não é difícil acreditar que você realmente me passou despercebido.
Mas, sabe, a cabeça fica projetando esses encontros hipotéticos e cheguei a conclusão que, se um dia nos esbarrarmos, o melhor a fazer seria me (re)apresentar pra você. Porque nós não somos mais os mesmos. E quem você conheceu (conviveu e amou), foi só uma versão anterior de mim. E vice-versa.
Hoje, acredite, cozinho bem e não durmo mais em filmes, já que eles se tornaram minha companhia na sua ausência. Parei de usar salto alto, porque não preciso mais me esticar para alcançar seus lábios. Só uso batom vermelho, não importa a hora do dia, porque eles me fazem sentir forte para ficar mais um dia sem você, mas ao mesmo tempo preparada para o caso de te encontrar.
Você, ouvi dizer, foi fazer mochilão no Peru. Quem diria… Você, que sempre preferiu conforto a aventuras. Também fiquei sabendo, através de amigos em comum, que desistiu da ideia de casar. O que vier, será. Logo você, que sonhava tanto quanto eu com o nosso grande dia.
Nós tivemos que matar aquela velharia que éramos, pro nosso próprio bem. O tempo reinventa. Remolda. Refaz. E a gente descobre que as novas partes são tão nossas quanto as antigas. Eu continuo sendo eu, só com uma nova roupagem. Mais solta. Mais porra louca. Até a minha risada, que você dizia ser preguiçosa, mudou. Faço escândalo agora, rio gostoso. Não por afronta às suas brincadeiras, mas como um cumprimento bem humorado a essa pessoa que me tornei.
Não somos mais os mesmos. Nem eu, nem você. Hoje, somos estranhos um ao outro, com um rosto familiar ao de alguém que conhecemos no passado. Eu brindo as mudanças, meu bem. Porque, sem elas, eu continuaria vivendo uma realidade em que você já não habitava mais.