Me espera que eu volto já


[Você pode ler este texto ao som de One And Only]

Sonhei com você esta noite. Acordei assustado te procurando. Talvez você estivesse sonhando comigo também. Não! Sonhei que você sonhava comigo. Ou será que eu sonhei que você sonhava que sonhava comigo? De qualquer forma, não importa, é tudo muito confuso. Era madrugada, 3h da manhã, muito tarde para poder te ligar e dizer “olha, estava sonhado com você, eu te beijava no meio da rua, começava a chover forte, mas não nos importamos, continuamos ali, você me levantava, eu ria, como que sem graça pela sua força, depois começamos a correr, assustados pelo vigor dos ventos e raios  era Iansã levando para longe as mazelas e trazendo a bonança , até que chegamos à sua casa, ensopados, entramos sem fazer barulho para que seus amigos não acordassem e fomos direto para seu quarto, tirando toda aquela roupa molhada para, depois, ficando ainda mais próximos, nos aquecer um no outro, fundindo-se num único corpo”.

Seria nobre poder cantar o quanto te desejo. Mas, como dizia, era madrugada, e não tinha seu colo para me aquecer, nem sua voz para me confortar. Então fiquei parado olhando nossa foto, aquela que tiramos no parque; não, no parque não, no shopping, ou talvez fosse no seu restaurante preferido; não, penso agora que foi no dia do aniversário da sua melhor amiga; não, acho que não, mas também não importa, aquela foto só nossa, que representa bem o que temos: uma foto meio escura em que quase não aparecemos, mas sei que estamos ali, que estávamos ali.

É só saudade, sabe? E por falar em saudade, por onde anda você? Há um tempo te envio cartas desesperadas, mensagens que nunca são respondidas e até mesmo ligações perdidas. Há um tempo te espero como um menino anseia pelo seu aniversário, aspirando presentes e mais presentes: mas só há um futuro cheio de passado. Há um tempo fico com um sorriso bobo lembrando o que você disse nas nossas últimas conversas, que, penso agora, faz tanto tanto tanto tempo que o próprio tempo pode apaga-las. Há um tempo ensaio vários começos, diálogos, discursos, declarações, encontros e vontades, e não tive sucesso em nenhum deles. Há um tempo eu te procuro, e não acho. Há um tempo eu te desejo, e não tenho. Há um tempo eu te espero, e você não vem. Há um tempo te quero perto, e você se afasta ainda mais. Há um tempo, num efêmero instante, eu me encantei por você, e você? Há um tempo te escrevo porque é a única maneira de me presentificar – ou te presentificar , e talvez você não me escute.

Há um tempo eu confessei a minha precisão, e te perdi completamente. Há um tempo  aquele tempo que não sei mais medir , eu estou aqui por trás de todo caos da vida; atrás dessa janela cinza de onde vejo diretamente a luz do seu quarto acesa; atrás dessa parede oca em que consigo escutar a sua voz rouca quando resolve cantar no fim da noite. Há um tempo eu sonho em te dizer coisas bonitas e bobas, te enviar flores no meio do expediente, te brindar com uma caixa de chocolate amargo para adoçarmos nossas madrugadas pós-sexo, aos teus ouvidos, recitar um poema tão tocante capaz de aquece o fundo d’alma, te beijar quando você menos esperar e depois adormecer em seus braços para de novo, novamente e outra vez sonhar. Há um tempo eu sonho com você, mesmo que sonhar este sonho seja apenas uma ilusão. Me espera, menino, me espera que eu volto já, a noite logo chega e poderemos nos encontrar.

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