[Você pode ler este texto ao som de Changes]
João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém. É assim que Carlos Drummond de Andrade fala direta e simbolicamente sobre o velho rodeio da vida em que pessoas diferentes se encontram, se apaixonam, às vezes dá certo, às vezes não dá, e todos partem uma hora.
Comecei a me acostumar com a ideia da partida depois de ler um poema do Nei Duclós, que compartilhava dos sensíveis versos a seguir: “pessoa nenhuma é lugar de repouso”. Posto isso, tive diversas interpretações acerca da frase e de seus possíveis significados. De um lado da moeda, enxergava a tristeza da insegurança do amor; do amado que não repousa na gente; do corpo passageiro que possuímos e que não é feito cais para atracar navios. Perceber que nós não pertencemos a alguém e que ninguém nos pertence é como romper um velho mito do amor que dura uma vida inteira, do romance dos contos de fadas que termina com “felizes para sempre”.
Por outro lado, existe o alívio; a sensação de que não dependemos única e exclusivamente de alguém para carregar a felicidade nas costas; o sentimento de que ficar e fazer companhia a alguém é uma escolha, não uma âncora soterrada em águas profundas que aprisionam; a previsão de que amar é movimento cíclico, e como todo bom ciclo, é algo que pode até ir embora uma hora, mas volta. Não exatamente a pessoa que se ama, mas o amor. Esse não nos abandona facilmente.
Toda partida exibe dois lados: o lado de quem fica e o lado de quem vai embora. Uns conseguem enxergar o alívio que se tem ao perder um amor, outros encontram refúgio na solidão e na dor. Nenhuma das sensações permanece para sempre, mas quem saberia dizer quanto tempo dura até enterrarmos completamente tudo o que sentimos por alguém? Sempre me perguntam isso. Na minha caixa de e-mails, o assunto campeão é “como esquecer alguém?” e “como superar um amor que acabou?”
Mesmo sem saber as respostas para essas perguntas, decidi exorcizar meus demônios e tentar relatar um pouco do que se passa depois da partida, falar sobre como fica a nossa vida sem alguém que a gente amou. Meu novo livro “Depois do Fim” traz um pouco da perspectiva dos amores que se findam e, mais importante que eles, das pessoas que precisam lidar com os fantasmas que ficaram da relação. Escrevê-lo foi uma maneira de retomar todas as pontas soltas deixadas na minha vida e, coincidentemente, acabei encontrando respostas escondidas nos episódios que me neguei a rever. A esta altura do campeonato, você deve deve estar me perguntando: tá, mas como é que eu faço para esquecer alguém?
Ninguém sabe, ninguém pode nos dizer. Não existe uma ciência exata que explique que não vai doer ou que vai ser fácil superar um amor que partiu. Não existe garantia de que seremos fortes, de que não nos abalaremos, de que não choraremos escondidos no banheiro do trabalho ou deixaremos de ligar para nossos amigos porque eles não aguentam mais ouvir a mesma história repetidas vezes. Não existe nenhuma receita prática que nos ensine a lidar com a iminência das partidas. Mas existe a dor, a saudade, a falta, a alegria da descoberta, as noites de recomeço, os novos hábitos, novas pessoas, uma vida completamente diferente da vida que a gente teve. O que nos resta é descobrir que depois de todo fim existe alguma coisa, mesmo que a sua vida pareça ter terminado no momento em que alguém partiu dela.
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Meu livro novo Depois do Fim acabou de sair nas livrarias. Ele fala sobre a nossa vida depois de perder um grande amor rumo à superação dele. Se você gostou desse texto, eu tô deixando três opções com desconto pra você comprar pela internet.
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