Pegavam-se como se estivessem se complementando, algo como fogo e ar, alimentavam-se de si. Língua, mãos, pés e dedos confundiam-se numa coreografia pouco ensaiada. Era um pouco risível se visto de fora, mas tinha energia, vontade e desejo, afinal, não é das coisas mais fáceis quem tenta manter um beijo e tirar a calça ao mesmo tempo com uma mão, porque a outra está apertando uma nádega, quando se está deitado.
Ela é de Áries; ele, libra; ambos, entre todas as coisas, eram tais como contam os textos na internet.
Rasgavam-se em elogios, um Aurélio inteiro fora de ordem e seus quase coloquiais sinônimos: dos sutis lindo e linda, passando pelos gostosa e gostoso até o tesão. O que seria feito era descrito antes ao pé do ouvido, entre mordidas no lóbulo e sussurros, ativando uma imaginação que já se fazia quase real, com a famosa conversa-canção-dos- sete-anões, um “eu vou, eu vou…” ad eternum.
Uma camiseta aqui, uma calça acolá; sutiã jogado ao chão, cueca lançada na prateleira; a calcinha para na cama, mas as meias se perdem – sempre as pobres meias. Mesmo que fosse dirigindo por Martin Scorsese e apelidado carinhosamente de “Touro Indomável”, aquele pinto não era Jake LaMotta, não se manteria em pé por muito tempo diante do ímpeto ariano. Resistiu o quanto pôde: Nocaute técnico aos quatro minutos e trinta e sete segundos do primeiro round. Índice muito próximo ao estabelecido por pesquisas que estimaram a duração do ato sexual – e verdade seja dita que eles não davam a mínima para isso, apenas desfrutavam do natural relaxamento pós-gozo.
A cama se faz de confessionário, logo, passaram a trocar ideias e estimular pensamentos que nunca tiveram anteriormente. “Kama Sutra”, diz ela, “Kama Sutra?”, responde num tom questionador, “É, isso mesmo”. Ela se levanta e pega da bolsa um guia edição de bolso, tipo brochura, com algumas dobras no canto superior direito de algumas páginas. “Como sabia o que ia acontecer, trouxe para nós”, sorri maliciosamente, e entrega para ele, “Essas são as que eu estou curiosa para tentar, mas pode escolher outras”, dando um beijo no pescoço na sequência.
Ele começa a folhear o livro passando cada uma das folhas de 17×12 com delicada curiosidade que só o didatismo de uma obra como aquela poderia proporcionar. O nome da posição vinha centralizado mais ao alto; figuras vinham um pouco abaixo do nome e tinham contornos simplistas, pretas, de fundo sem preenchimento de cor e não explícitas, ainda assim, bastante elucidativas quanto ao resultado final do contorcionismo; abaixo da figura, uma breve explicação indicava como se encaixar adequadamente e o nível de prazer que poderia ser alcançado. As páginas marcadas mostravam coisas como “Esposa de Indra”, “Dança das borboletas”, “Aos Pés da Rainha”, “Cama de Cleópatra” e etc.
“Nossa não conhecia essas”, “Pois é, fiquei curiosa”, “Eu preciso me alongar antes”, brinca ele, “Acho que já estamos bem aquecidinhos”, e ela ri. “Vai, escolhe uma, já quero mais”, pede, “Vou escolher, espera aí”.
Ele olha atentamente cada página antes de passá-la: os olhos percorrem o nome, param na figura e vão suavemente deslizando palavra por palavra da descrição; ela o estimula enquanto isso. Vez ou outra pula algumas páginas e cai em alguma que o entusiasma, “Hum, essa deve ser bem boa”, “Quer tentar?”, “Espera, deixa-me ver mais uma”, e ele continua em sua curiosidade.
Depois de alguns minutos, já sem o estimular, notando que ele voltara quase que no começo, questiona, “E então, qual vamos fazer?”, “Estou meio em dúvida, tem uma aqui que achei maravilhosa, porém, acho que não vai ser tão prazeroso para você, fala que é melhor para homem…”, “…Eu aposto que vou gostar…”, e volta a tocá-lo, “…Mas tem uma outra que parece ser bem boa para você”, e ela para de tocá-lo.
“Ai, escolhe logo, estou na vontade”, diz rispidamente desejosa, “Hum, espera só mais um pouco, acho que já sei qual eu quero”. Entre o que achava e sua decisão, transcorreram mais segundos e minutos, sem que, de fato, alguma posição fosse agraciada com a escolha para que se entrelaçassem como um nó naval.
“Qual a dificuldade?”, pergunta emburrada, “São tantas!”, ele ri, pensando que fosse charme, “Tá achando graça?”, “Ué, você está brava mesmo?”, “Lógico! Decide logo!”. O homem pressionado trava mais que o Windows quando na tentativa de fechar alguma janela com conteúdo inadequado. Ele fecha o livro, corre as páginas com o dedão, semelhante ao que é feito com livrinhos de provérbios para o dia, e escolhe uma, contudo, repara na página ao lado e se divide sobre sua certeza randômica.
“Quer saber, linda? A que você quiser, faço qualquer uma”, e a beija romanticamente nos lábios, aperta-a nos peitos e, em seguida, nas coxas, então, joga-se na cama, “Vem cá, vem”. Observa-o se masturbar lentamente; o livro, que fora devolvido, é fechado por ela de maneira delicada e posto no pé da cama; ela engatinha por cima dele até que fiquem rosto com rosto, então, deita sobre o ombro esquerdo e toma controle do movimento que ele fazia.
“Você é bem indeciso, não?”, e sorri, “Quando a coisa é boa, tanto faz”, “É…”, ela fecha os olhos e só mantém o ritmo. “Mas já decidi qual você vai fazer agora”, retoma o sorriso no rosto, “Opa! Gostei! É boa? Vou conseguir”, “É ótima! Certeza que vai mandar muito bem”, “Vai, me fala qual vai ser”, e ele se empolga de fazer se ajeitar na cama e bombear mais sangue para a parte mais irrigada do seu corpo naquele momento, “Cinco contra um, faça bom proveito e boa noite”, largou-o decidida e virou-se de lado para dormir. Ele, por sua vez, não sabia se dormia ou terminava de se masturbar: Passou a noite em claro decidindo.