A gente precisava se despedir


Quero contar o que aconteceu para que eu nunca mais esqueça. A gente assistiu a dois episódios de The Office (Assédio Sexual e Cassino Night) e você riu umas três vezes. Foi mais do que eu esperava mas muito menos que eu gostaria. Mas ok, é só uma série. Foi divertido, no início, nem parecia que ia ser o pior dia da minha semana. A gente brincou, conversou sobre coisas aleatórias e fingiu que nada estava acontecendo. Eu mostrei o quanto sou ciumenta. Abri sua lista de amigos e fiquei decidindo qual delas dava em cima de você, mesmo que isso não fizesse o menor sentido. – Essa aqui, com certeza. – Ela é a minha dentista. – Que disfarce melhor do que alguém que ganha trabalhando dentro da sua boca? E você riu de novo pra logo em seguida fechar a cara. “A gente precisa se despedir” e de repente a trilha sonora mudou, a luz apagou, o clima foi escurecendo como se a noite tivesse chegando mais cedo, como se tudo que a gente tivesse passado até então fosse só uma lembrança de uma alegria que a gente teve muitos anos atrás. Você me disse que passou a vida procurando alguém como eu.

Como você demorou tanto tempo, mesmo morando na mesma cidade? Fico imaginando você indo ao supermercado, encontrando-o fechado e pesquisando no 4square, porque é isso que você faria, qual seria a opção mais próxima. E seria a que fica a um quarteirão do meu trabalho e eu estaria voltando do horário de almoço. Quantas vezes a gente passou perto do outro? E aquele show que a gente estava junto, ambos com seus respectivos acompanhantes? Como é que a gente não se esbarrou, não percebeu que em alguns meses descobriríamos ser a pessoa mais importante na vida do outro? Como é que isso tudo não aconteceu? De certa forma te culpo por nunca ter mudado o caminho, nunca ter dado o check-in no mesmo lugar ou esbarrado em mim no meio da rua, nunca ter me encontrado para nunca mais separar. De certa forma – e de muitas outras também eu culpo você por me fazer ir embora Eu disse que nunca fui uma escolha. Você disse que eu tava enganada. E não conseguiu dizer mais nada porque cada palavra era pesada demais. Fiquei assistindo você agonizando mentalmente, imóvel, porque tenho uma trava que me impede de sofrer junto.

É como um jogo em que só posso sofrer depois que o outro tiver terminado, porque a minha vez ainda não chegou. E de repente bateu uma tristeza profunda que não experimentava há anos, uma vontade de pedir pra parar e voltar a olhar sua lista de amigas só pra fingir que sou ciumenta, de assistir mais um episódio de The Office a gente nem terminou a quarta temporada, sabe? Uma vontade de mudar as coisas. Mas eu precisava ser forte, precisava aguentar o tranco, por nós. Por mim. Porque você já estava machucado o suficiente para eu dizer que ontem uma parte de mim morreu. Você já tava machucado o suficiente para eu dizer que eu vou sentir sua falta. Eu quero contar o que aconteceu para que eu nunca mais esqueça. A gente assistiu a dois episódios de The Office e você riu umas três vezes. Durante cada risada, eu senti que você tinha entrado na minha vida pra sempre. Mas a gente precisava se despedir.

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