Eu joguei a toalha


[Você pode ler esse texto ao som de Time After Time]

Dia desses li um texto da excelente Ruth Manus falando sobre jogar a toalha. Segundo ela, nossa geração aprendeu a desistir cedo demais do amor, sem esforço algum para que ele prosperasse ou se recuperasse das batidas do tempo. Fiquei reflexivo ao terminar minha leitura do texto. Eu, que sempre fui favorável à busca do amor e das novas chances de amar alguém, fui pego pensando se tudo aquilo no que acreditava não passava de egoísmo disfarçado de esperança. Egoísmo por pensar apenas na minha felicidade, não na do outro. Egoísmo por sugerir que rompamos com antigos acordos, sem pensar nas promessas que fizemos. Egoísmo por acreditar nos dois lados da balança e na decisão de partir quando o lado ruim for mais forte.

Em essência, somos todos egoístas. A síndrome do altruísmo ainda não nos acometeu nesta vida. É meio chocante admitir isso, mas basta entender o que denota egoísmo na gente que a naturalidade com a qual vivemos esse sentimento se escancara. Todos perseguimos as escolhas e opções que nos beneficiam, na maioria das vezes. Ceder, talvez, seja a maior quebra contra nossos atos egoístas naturalmente enraizados e, talvez, a nossa maior prova de amor. Mas até quando vale ceder?

Percebo em muitos relacionamentos que acompanho, seja como observador ou como sobrevivente, que utilizamos da ideia do amor romântico, que nos une por uma vida toda, como uma espécie de âncora para deixar nossos pés bem presos ao chão. Utilizamos da fantasia do amor infindável para dizer que nessa vida não deu certo.

Quantos relacionamentos, por mais amor que você tivesse à pessoa, te deixaram infeliz? Quantas vezes você desistiu de acreditar no amor porque aquele amor de uma vida inteira, aquele amor intenso que punha fogo nos seus olhos acabou com o outro batendo portas? Quantas vezes você deixou de acreditar essencialmente no amor porque a materialização dele tinha se tornado desastrosa?

Não foi o amor que deu errado, não foi o amor que não valeu a pena, foi a relação. Nossos relacionamentos são compostos por muitos elementos que fazem parte da equação. Chega uma hora, por exemplo, em que você percebe que não é mais feliz, por mais que o outro seja feliz com você. Chega uma hora em que você se sente completamente sugado e sem vida ao lado da pessoa por quem você jurou carinho eterno. Chega uma hora em que você desacredita na mudança porque não quer ser egoísta e deixar o outro lidando com um naufrágio. Mas e você, onde mora a sua felicidade? Numa promessa antiga, numa jura de amor ou no peito do outro?

Nós fazemos juras ao amor que sentimos, não à outra pessoa. Fazemos juras ao sentimento de cuidar e ter cuidado, de amar e ter amor de volta, de fazer o bem e de tentar fazer o outro feliz, mas não podemos nos esquecer de quão importante e sincero e verdadeiro deveria ser nosso cuidado conosco. E isso é egoísta? Sim, pra caramba. Mas também tem fundamento. Amor nenhum vale a pena quando não é feliz, quando não traz felicidade. Não falo da euforia que provem das paixões de carnaval, mas do sentimento de alma quieta e em paz. Amor que causa inquietação e prejudica a nossa saúde mental não vale a pena. Ou melhor, a pessoa que nos causa isso já não vale mais a pena. E temos todo o direito de recomeçar uma busca por alguma nova personificação desse sentimento que faz com que nos sintamos felizes.

Talvez, abrir mão de quem a gente ama não seja jogar a toalha. Não é simplesmente deixar o desgaste e todas as coisas do contra tomarem conta da gente. O que muita gente não entende é que, de vez em quando, a escolha que nós temos que fazer é por nós mesmos. Abrir mão de quem amamos, de vez em quando, é necessário para não abrir mão da gente.

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