Eu não sei onde estarei daqui a 10 anos


Recentemente me perguntaram numa entrevista como eu me via daqui a 10 anos. Silêncio absoluto no estúdio. Não sabia a resposta. Acho que não vou saber tão cedo.

Uma coisa que me incomoda é não saber como vai ser o futuro. Não saber o que fazer com os dias que se seguem e parar de imaginar, projetar, planejar uma vida lá na frente. Acho que todo mundo tem um pouco disso: a gente estuda, trabalha, faz projetos, cria algo, se dedica e tudo mais pra garantir o futuro. Mas e o presente? Como ele fica?

No ano passado, percebi que eu era uma dessas pessoas focadas no futuro. Não percebia, mas estava preso a um ciclo de trabalho-casa-descanso-trabalho-casa-descanso que me permitia apenas sobreviver à vida, sem nem ao menos vivê-la plenamente. Conheço muita gente que embarca nessa de garantir o futuro, fazer seu pé de meia, deixar pra aproveitar quando conquistar estabilidade financeira daqui a algum tempo, mas essa mesma galera acaba nunca sabendo responder onde estará daqui a 10 anos. Sabe por quê? Porque a gente não sabe nem onde está hoje.

Seguimos passos com a cabeça focada no chão, pé depois de pé, pensando em não tropeçar. No máximo, colocamos uma viseira que tapa a visão panorâmica e olhamos pra frente, sempre enxergando um ponto distante onde precisamos chegar. Mas a vida não é tudo aquilo que passa ao redor da gente enquanto a gente anda? Parei pra pensar nisso, parei pra pensar em como me vejo daqui a 10 minutos, como me vejo agora.

É muito difícil acordar disso e perceber que levamos vidas sem sentido. Que fazemos coisas por fazer e deixamos de construir algo hoje que mude a nossa vida e nos faça felizes. Algo que seja prazeroso e que mude a gente, algo que seja inspirador e que mude o mundo. A nossa missão de vida, por assim dizer. Foi assim que eu iniciei minha busca por um propósito de vida que responderia à pergunta imediata: onde eu me vejo hoje?

Existem pessoas que encontram propósitos e os levam como máxima na vida. Pessoas que dedicam suas vidas a viver missões relevantes que vão mudar sua própria vida e sua forma de ver o mundo, enquanto outra grande parte da gente ainda foca nos mesmos objetivos tradicionais de futuro, não percebendo que construir vai muito além do campo material. A Marlene, por exemplo, conta a história dela no vídeo abaixo. Ela dedicou a vida inteira ao propósito de ajudar socialmente moradores de rua, sem pensar demais no futuro. Sua missão sempre foi emergencial: ajudar agora quem precisa. E foi nessa jornada que Marlene redescobriu os diferentes modos de ver a vida, esperando chegar o momento certo para estabelecer novos objetivos e rumos.

Eu, a exemplo da Marlene, comecei a focar mais no que eu vivo agora. Comecei a enxergar o mundo como uma soma de ações e reações que a gente tem para com a gente e para com os outros. Parei de tentar enxergar lá na frente pra responder essa pergunta que todo mundo faz em entrevistas de empregos e percebi que os sonhos são feitos de metas que acontecem agora. Por isso, confesso: eu não faço a menor ideia de como nem onde estarei daqui a 10 anos. Mas começo a entender exatamente onde estou agora. E isso já me faz sentir menos perdido num mundo melhor.

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