Estou sentado num café perto da minha casa e espero um amigo atrasado. Ele chega e conversamos sobre amenidades que velhos conhecidos trocam para manter vivas lembranças de uma época em que a amizade era mais consistente. Papo vai, papo vem, entramos nos relacionamentos que tivemos tido ao longo dos últimos tempos. “Eu não corro atrás de mais ninguém. Quem quiser agora que corra atrás de mim. Não me disponho mais a isso.”, bradou meu amigo. Mas por quê?
Sinto como se evitássemos essa corrida o tempo todo. Não pega bem dizer que corre atrás de alguém, não é cool nem moderninho demonstrar que se importa. Somos tão assombrados pelo medo de fazer papel de trouxa, que fazemos de tudo para não ser, inclusive não nos envolvemos por isso.
Correr atrás virou sinônimo de fraqueza, onde as partes deixam todo o trabalho para o outro enquanto cruzam os braços esperando mensagens, ligações, sinais de fumaça ou qualquer outro sinal de interesse. Caso a outra pessoa desista, o indivíduo ainda engrossa o coro dizendo que não valia mesmo a pena, que nem correu atrás dele(a).
Isso ressalta um medo enorme que a gente tem, claramente visto nessa disputa de poder expressa em quem corre atrás de quem, em quem é desejado e quem é rejeitado. Ressalta o medo que muita gente tem de quebrar a cara, de ter o coração partido, de se envolver e ver que as coisas não eram exatamente assim. Ressalta um movimento pró-ego, em que o importante é alimentar a sua autoimagem nutrida pelo interesse alheio, enquanto você se afasta do cargo de “humano frágil que expressa emoções”. É compreensível, mas revela uma postura boba e infantil que não precisaria existir caso encarássemos relacionamentos como um movimento mútuo.
Se você gosta ou tem interesse em alguém, qual o problema em dizer isso? Qual o problema em expressar suas emoções, em se entregar um pouco, em abrir uma brecha no meio dessa defesa toda? Se apaixonar é correr riscos inevitáveis, e fazer com que alguém corra atrás de você pelo simples prazer de se sentir desejado é babaquice pura. O ideal seria modificar nosso pensamento em torno da corrida: ao invés de uma disputa com obstáculos, deveríamos entender que relacionamentos estão mais pra corrida com revezamento. Se um não chega ao outro, não tem sentido, não tem por que, não tem como continuar.
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