[Você pode ler este texto ao som de Wicked Games]
Foi quando você me olhou e pediu calma. Disse que a tempestade hora ou outra passa ou a gente se acostuma com o escuro e aprende a conviver. A dor uma hora começa a fazer parte da gente e não dá nem pra perceber, e daí a gente amadurece porque ela vira bagagem emocional. Junta todas as nossas quedas e todas as nossas esperanças e abre os olhos pro mundo com um pouco mais de clareza. E se não passar ou você não acostumar, não tem problema, meu bem.
Eu não sei se é pelo teu gosto pela literatura ou pela vida, mas eu me apaixonei por você. Me apaixonei quando cê me mostrou tuas caretas sem medo, sem vergonha nenhuma, procurando uma maneira de me fazer rir. Quando você me olhou de canto e disse que essas coisas todas que eu escrevo dão um pouco mais de brilho ao mundo. Quando você me leu e disse que eu devia amar alguém pra caramba. Mal sabe você que essas coisas todas que eu escrevo são sobre você.
É que dia desses eu tava lendo Bovolento e descobri que talvez amar dispense cronômetros. Talvez dispense lógica, razão e um monte dessas coisas que a gente usa pra justificar aquilo o que dá medo. E daí eu percebi que foi amor desde a primeira vez que você soletrou meu nome e ligou dizendo que se lembrou de mim. Eu passei o dia inteiro sorrindo por você, e eu percebi o quanto eu te guardo aqui dentro.
É que tarde dessas cê me procurou pra dizer que não se esqueceu de mim. Que a rotina devora a gente, que massacra pouco a pouco e que no dia a dia a gente só lembra daquilo o que sobrecarrega, daquilo o que fere e magoa, mas mesmo assim você não tinha se esquecido de mim e uma hora voltava. Você me disse isso e eu queria te dizer que a rotina tem pressionado aqui também, que o tempo passa e as obrigações apertam a gente, mas que dentro de mim só tem passado você. Que você passa e eu não passo mais frio, passo pelas pessoas e pelos lugares, e que tudo o que passa aqui dentro é você.