[Você pode ler este texto ao som de Yellow]
Sempre que quero pensar na vida, entro numa playlist especial que coloca minhas músicas preferidas nas alturas. Quase fico completamente surdo – pra quem não sabe, tenho surdez total em um ouvido e já deveria ter deixado os fones aposentados pra não prejudicar ainda mais a audição -, mas é inevitável o transe em que as músicas me colocam. Nesse fim de ano, mais que todos os outros, voltar ao passado também foi inevitável.
Particularmente tive um ano incrível. Gosto de dizer que foi o melhor ano da minha vida, não importa o que tenha acontecido de ruim. Senti-me vivo, rodeado de amores, realizado em âmbitos completamente diferentes. Esse ano, a balança de libra pesou mais pro lado bom, meu bem. Vai ver, foi isso. E fecho o ano cheio de gratidão, pronto pra recomeçar.
Tenho a crença de que todo fim e início de ano promovem esperança na gente. É a chance de um recomeço cronológico, contado e marcado por meses em que a gente já sabe o que vai acontecer, por datas obrigatórias, por feriados aguardados e por uma agenda pré-moldada na nossa cabeça. Fim de ano traz uma vontade danada de ser feliz no ano que vem, faz uma faxina completa na casa e nas coisas que a gente pensa. E parece que também traz alívio, já que vi tanta gente reclamando desse ano e das coisas todas que aconteceram nele. Ano que vem vai ser melhor, dizem eles.
Mas o que é a mudança de ano senão uma simples virada de calendário? Se não contássêmos os dias dessa forma, trinta e um de dezembro não teria valor algum além daquele que damos a ele no Ocidente. Se a vida fosse linear – até é, depende do ponto de vista -, viveríamos sem a expectativa de reparar erros antigos, sem projetá-los mais na frente. Parece que a vida em ciclos faz mais sentido, é mais humana, permite que a gente reviva nas primaveras de outros anos o degelo dos invernos anteriores. É nisso que a gente acredita.
O fato é que 2016 não vai mudar nada. Nadica. Não é o ano que chega com algo especial, mas a motivação que essa nossa crença em ciclos traz. Não haverá uma mudança completa e louca no alinhamento das nossas vidas por nenhuma razão além de nós mesmos e da nossa vontade em mudar. 2016 não vai ser melhor só por ser 2016, assim como o mundo não vai mudar num passe de mágica entre os dias trinta e um de dezembro e primeiro de janeiro. Mas acreditar nisso acende na gente a possibilidade da mudança. Nós é que criamos a nossa chance de recomeçar.
Então, se você é uma dessas pessoas que espera ansiosamente pelo ano novo como se um milagre caísse do céu, sinto decepcioná-lo: nada vai acontecer. Assim como nada aconteceu em 2015 porque você não se moveu, não aproveitou o impulso mágico dos recomeços pra fazer uma vida melhor. É claro que existem fatores que são independentes e não controlamos, e geralmente são esses fatores que estragam tudo. No entanto, se já sabemos que eles existem, resta a nós fazer a outra parte dar certo, aquela que depende da gente. Ser feliz é movimento, e toda felicidade reside na busca por ela mesma.
Insistir nas mesmas pessoas que nos quebraram, deixar de lado afetos reconhecidos e não correspondidos, largar sonhos por preguiça de ir atrás deles, amar pouco e fechar os olhos pro que importa são coisas que não mudam sozinhas, dependem da gente. Já disse isso há tempos, já escrevi no meu livro, só falta tatuar na cara: desalojar velhos vícios é muito difícil, mas muito necessário pra novos e bons ciclos. Não é um ano novo, um mês novo, um dia novo que vai mudar tudo. É o que faremos com eles e com as chances que nos serão dadas de mudar a vida.
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