Cuida um pouquinho de mim, mesmo que eu pareça não precisar. Eu tenho esse jeito de quem dá conta de tudo. E dou conta de muita coisa mesmo. Só que não é de tudo, não. E muita coisa eu até posso dar conta, mas careço de algum gesto de afago na alma. Porque tenho sido muito dura comigo, e seu cuidado vem me amolecer um pouco.
Fala que meu cabelo tá bonito, enrosca seus dedos entre os fios e pode se demorar, deixa eu saber que você gosta de me dar carinho, porque gosta da textura que eu tenho, do meu cheiro e da temperatura da gente junto.
Pergunta como foi meu dia e se eu não disser muito, pergunta algo mais e continua com os olhos em mim, com silêncio cheio de presença.
Quando eu estiver cansada abre os braços e me convida para me aninhar.
Diz que viu algo que fez lembrar de mim. Alguém que deu uma risada solta, uma folha caindo leve de uma árvore, uma música que tocou no rádio.
Traz aquele chocolate que eu amo, observa eu fazendo festa e sorri dizendo que só trouxe porque adora me ver assim.
Enquanto me beija, atende os sinais do meu corpo pedindo suas mãos.
Diz que vai ficar tudo bem, se eu acordar chorando por um pesadelo que eu não sei explicar.
Pode me ligar no meio do dia pra me contar alguma história à toa ou só pra ouvir minha voz e deixar eu ouvir a sua.
Presta atenção no que eu digo e no que eu não digo, e me conta de vez em quando que você tá ali acompanhando.
Quando eu estiver pilhada, pode dizer que preciso respirar, que o jeito que eu tô levando as coisas não tá legal, me traz pra realidade, porque às vezes eu viajo mesmo.
Dá um sorrisão pra mim, dá a mão, dá seu ombro, dá abrigo, dá seu beijo, dá um cheiro e um abraço, dá silêncio e suas histórias.
Cuida um pouquinho de mim, porque eu ando meio esquecida de como fazer isso.
Porque mesmo que não pareça, tem hora que preciso só de um gesto que mostre que você me vê, que tá comigo nessa e que eu posso ser quem eu sou. Porque, de verdade, tem hora que eu me esqueço de oferecer isso pra mim. Pode me dar esse lembrete, me levanta o queixo, suave assim, me olha e me lembra o gosto bom do amor que vem de mansinho e aquece a gente por dentro.