Dia desses estava conversando com o Daniel (Bovolento), que assina esse blog, sobre essas coisas que a gente escreve e chegamos a conclusão de que temos algo em comum: pecamos pela repetição exagerada de vez em quando. Explico: quando alguma coisa ou algum texto dá certo, a gente se apega tanto ao texto que procura uma maneira refazê-lo pra ver se a mágica acontece de novo. Mexe uma frase aqui, uma palavra ali, a vírgula seguinte e no final é sempre a mesma coisa. E isso desgasta, esgota o leque, não surpreende porque não têm elemento novo nenhum. Somos assim com nossos relacionamentos.
Nós temos a mania de criar uma trilha que nos parece terreno firme que uma vez nos levou a glória, e seguimos por ela em todas as vezes que tentamos conquistar alguém. As mesmas palavras, os mesmos lugares, os mesmos encantos e as mesmas certezas. A gente faz tudo de uma maneira tão mecânica porque outra vez deu certo que acabamos por achar que a conquista não depende mais da gente. E daí a gente não se reinventa, não se redescobre, não coloca a bagagem emocional que adquiriu quando deu errado com o outro e cresceu. A conquista não acontece e bate a frustração.
Somos assim com nossos amores que tem dado certo também. Nenhuma surpresa, nenhuma flor arrancada do jardim do vizinho em dia útil pra demonstrar que lembrou do outro. É só buquê e declaração em data comemorativa e essas coisas clichês, pré-programadas que a gente se sente na obrigação de fazer, e faz. Nenhum reinvento, nada pra pegar o outro despreparado em dia de semana e deixar sem jeito. A gente se apega tanto ao que nos parece ouro que esquecemos das pequenas coisas. Nos apegamos ao que é grandioso ao ponto de estar marcado no calendário com data circulada envolto por um recado que não nos deixe esquecer o porquê de ser especial. E porque é especial a gente segue a trilha que uma vez nos levou a glória e hora ou outra bate a frustração. Pecamos pela repetição e pecamos por não nos reinventarmos com medo de assustar o outro. Sobra a gente, com mais uma questão inacabada e feridas abertas, expostas pro mundo na frustração do semblante na face.
No fim das contas é isso que somos: redundantes. Nos apegamos a estrada conhecida e esquecemos de nos reinventar com medo do fracasso. E aí não tem surpresa, não tem comoção e nem atitude bacana que descompasse o outro. E uma hora acaba. Sempre acaba. Acaba porque a rotina cansa e o outro vai embora. Então a gente deita a cabeça no travesseiro pra se martirizar porque se esqueceu de se reinventar e se apegou ao que nos parecia ouro, ou achou que não era importante. E aí sobra a gente, com as feridas firmes e fortes em qualquer declaração. Até que a gente encontra alguém e segue a trilha, de novo. Redundância. Como se percorrer o caminho conhecido fosse necessário pra fechar a ferida. Não é. Sorte daqueles que desapegaram do caminho, abriram novas trilhas e se reinventaram. Porque o necessário, às vezes, é desapegar daquilo o que nos parece ouro e se redescobrir.