[Você pode ler este texto ao som de Somewhere Only We Know]
Sempre defendi a ideia de que distância era um conceito trapaceiro, porque nos fazia acreditar que não seria suficiente para atrapalhar nenhum tipo de laço afetivo que criamos com alguém. O tempo foi passando e percebi que as coisas não são bem assim. Que distância importa e que é necessário um certo esforço para fazer com que ela não abale tanto assim as nossas relações com outras pessoas.
Vi amigos sumindo, me vi sumir também. Vi meu contato com meus pais se tornarem menos frequentes, com a desculpa de que estava atolado de obrigações. Vi datas fixas de aniversários e comemorações se apagarem da minha frente, pelo simples fato de não ser lembrado da pessoa referente à ela no dia a dia. Foi quando percebi que a distância nos faz tirar as pessoas que nos orbitam desse centro magnético, e passamos a substituí-las por outras. Quem não tem um melhor amigo do colégio que nunca mais foi visto? Ou um colega de trabalho que ouvia todas as nossas histórias no almoço e que nunca mais recebeu uma mensagem que seja?
Acho natural que nós tenhamos mais contato com quem faz parte dos nossos dias de forma mais intensa. São as pessoas que sabem da evolução constante das nossas vidas, partilham os momentos mais recentes, sabem exatamente em que novela nos encontramos. O problema é que esses espaços de protagonismo são deslocados ao longo do tempo. Trocamos o melhor amigo do colégio pelo melhor amigo da faculdade, trocamos o colega do emprego antigo pelo novo, trocamos o primeiro amor pelos próximos. Trocar, talvez, não seja a minha melhor escolha de palavra. Na verdade, deixamos de priorizar nossa relação com essas pessoas por conta da falta de vivência constante. E quando nos lembramos deles, deixamos pra depois.
Deixamos pra depois a lembrança de algo engraçado porque, aparentemente, seria estranho falar com alguém que não participa mais tanto da nossa vida. Deixamos pra depois a ligação pra atualizar o amigo que ficou em outra cidade. Deixamos pra depois as felicitações de aniversário dos avós. Deixamos pra depois o convite pra sair que poderíamos fazer pras amigas da faculdade. Deixamos pra depois todo mundo que não é mais prioridade na vida da gente. Às vezes, nem é por mal. É só o nosso costume de transformar pessoas em passado. Verdade seja dita: quando alguém se torna passado, ela deixa de fazer parte da vida da gente e recolocá-la nos dias atuais parece não encaixar com a nova narrativa.
E como a gente dá jeito nisso, nessa coisa terrível de deixar que relações se apaguem mesmo quando queremos muito manter alguém? Precisamos de esforço. Esforço pra ligar, esforço pra saber das coisas, esforço pra ouvir o outro. Esforço pra manter os laços, esforço pra criar encontros, esforço para que estejamos perto mesmo que haja distância. Inevitavelmente, nós perderemos algumas pessoas – e é doloroso admitir isso. Dói admitir que não carregaremos todas as boas pessoas pela vida. Dói saber que existe gente que vai permanecer intacta num período e depois não vai mais participar das histórias que a gente conta. Dói quando as pessoas se tornam passado.
Percebi que dói quando terminei esse texto com uma lista enorme de nomes que eu nunca quis que se apagassem. Amigos, colegas, amores, parentes, gente que eu genuinamente adoro. Gente que eu prometi carregar comigo pra sempre, que fez parte de planos. Gente que não merece que eu os deixe pra depois. Você, caro leitor, provavelmente identificou algumas pessoas dessas também. E agora deve se perguntar, assim como eu, como fazer pra não apagar essa gente toda? Não sei. Não sei mesmo. O que posso fazer, e talvez você poderia fazer também, é me esforçar um pouco mais. É dizer agora, não deixar pra depois. É marcar aquele café agora e não ter medo do incômodo pelo tempo longe. É dar os parabéns e se desculpar por ter esquecido, dizer o quanto se importa, rever as suas prioridades. Se nós queremos tanto assim que alguém permaneça na vida da gente, mesmo que não seja rotineiramente, a primeira coisa que podemos fazer é parar de deixá-los pra depois. Porque depois, nesses casos, não vira futuro. Vira passado e acaba ficando pra trás.
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