[Você pode ler este texto ao som de Cups]
A planta da varanda vai morrer porque você sempre se esquece de colocar água nela. Eu sei porque cê fez exatamente a mesma coisa com a gente. Não fez? Você se esqueceu de regar nós dois aos pouquinhos, dia após dia, como a gente faz com aquilo que a gente não quer que morra. Era pra aquele amor do início não ter morrido – pelo menos não do jeito que morreu.
O armário da cozinha vai ficar vazio porque sua memória não é lá das melhores e era eu que sempre te lembrava de ir ao supermercado ao fim do mês. Era eu que te lembrava do aniversário do seu pai. E das suas reuniões importantes. Eu tava sempre ali pra te lembrar da vida, disso você se lembra? Você vai sentir falta disso quando eu for embora.
Os seus vizinhos vão achar que fomos viajar porque suas tardes não vão mais ser invadidas com doses das minhas músicas do Caetano. E seus amigos vão sentir falta das minhas gargalhadas nas sextas na sua casa. Sua mãe vai morrer de saudade de como eu conseguia organizar sua bagunça – na casa e na vida. E você vai pensar, toda noite depois de eu ir embora, na minha mania ridícula de aquecer meu pés nos seus antes de dormir.
Você não vai ter mais os abraços no fim do dia. E ninguém te contando animada de todas as coisas que viu e que fez e que falou. Você vai ter o silêncio que sempre desejou enquanto eu procuro por aí alguém que me escute de verdade do jeito que sempre precisei.
Quando eu for embora, você vai ficar se perguntando por que você me deixou ir se dizia tanto que era eu, se achava tanto que era eu, se jurava toda manhã quando acordava que era eu. E você vai tentar culpar os astros, a sua mãe, a minha melhor amiga, a sua ex-namorada que nunca parou de ligar e o timing errado. Até cair a ficha que a culpa foi só nossa. E aí você vai se questionar como é que a gente deixa alguém sair assim da nossa história sem sequer pedir baixinho que seja pra esse alguém ficar.
Como é que se faz isso?
Quando eu fui embora, e juntei todas as minhas coisas e todos os meus pedaços, eu rezei em silêncio pra essa ter sido a última vez que você tem tão pouco cuidado assim com os sentimentos dos outros. E torci por nós dois – que da próxima vez a gente encontre por aí alguém que seja tudo aquilo que a gente sempre quis. Alguém que fique. Alguém que nos peça pra ficar.
Mas eu fui embora.
E deixei na sua casa, ao lado do sofá, uma única certeza: você vai sentir minha falta.
Eu sei disso porque vou sentir sua falta também.