Sou carente. Não adianta. Faço parte do grupo das pessoas extremamente clichês que sentem frio e querem aconchego, que pensa em quem chamar pros programas convencionais e comercialmente programados pra dois, que sente falta de aquietar um pouco porque se lembra como era o tempo em que tinha alguém do lado. Já tive várias fases, principalmente aquela fase (que a gente sabe que é chata) de querer por querer encontrar alguém. É frágil pra caramba, nem sentimos, mas é quando tudo tá mais propenso a desandar.
Te explico.
É quando a gente não quer alguém em especial, a gente só quer alguém. Daí já viu, né? Vem gente, passa gente, vem expectativa, passa frustração. E dá-lhe reclamar no bar que não existem mais pessoas interessantes, e dá-lhe crescer o abismo de angústia no peito depois de mais uma tentativa frustrada, e dá-lhe jurar que a gente vai morrer sozinho. São as juras de quem tá desistindo aos poucos dessa busca desesperada. Nada mais normal.
Demorei muito pra entender qual era o problema nisso tudo. Já escrevi tanto sobre isso (e me leio tão pouco, me escuto tão pouco que nem percebi). É bem claro: quando a gente só quer preencher uma lacuna sem saber o que é, a gente brinca com lego de olhos vendados. Tentamos colocar quadrado no lugar de círculo e acabamos não entendendo por que um triângulo não completa um retângulo. Geometria não é o forte de quem procura, procura e não acha, na intenção de preencher uma vontade.
Quando a gente busca por companhia, a tal mágica não acontece. O que acontece é um requerimento de vaga: setamos as características medianas e entrevistamos possíveis amores que casem com o job. Entrevista vai, transa vem, gente saindo de casa de manhã e alguns jantares passam até percebemos que não tá rolando. E não tá por uma simples questão cósmica: não é a nossa vibe. Não tá sendo um encontro natural, não rolou aquele “conheci fulano na casa de um amigo e achei bacana, vamos sair”. Tudo já começa com uma cobrança emocional forte nossa pra dar certo porque a tal pessoa parece se encaixar no que a gente quer. Você consegue enxergar meu ponto e ver onde isso vai dar? Em cilada.
Uma vez eu li que não se mata o desejo de comer pêra com maça. É assim com amor: não se mata o desejo de companhia com sucesso no trabalho. Mas acho que as outras coisas da vida precisam estar em sintonia, nós precisamos estar plenos em algumas coisas pra que a balança não penda extremamente pro lado afetivo. Afeto é uma necessidade psicológica nossa, assim como outras tantas. E nós temos uma tendência muito forte (e cultural) de achar que todos os nossos problemas serão resolvidos se formos amados e encontrarmos as pessoas da nossa vida. Acho que não é bem assim.
Claro que você não vai ficar parado feito paspalho dentro de casa sem dar uma mãozinha pro destino de apresentar alguém, mas o extremo desespero de buscar o tempo todo, de se cobrar o tempo todo, de depositar todas as tuas esperanças no encontro de um amor podem levar a busca ao fracasso. Nos cobramos mais, acabamos nos culpando e achando que não somos suficientes e vem uma avalanche de questões que só pioram a carência. Demorei muito tempo pra entender que a coisa toda tem que ser mais leve. A busca, o amor, a gente, tudo tem que ser prazeroso, tem que ensinar alguma coisa. E amor que a gente caça acaba não sendo nada disso. Por ser forçado, por não compensar as expectativas, por não sugerir um encontro natural com alguém que, talvez, você nem olhasse no meio dos currículos e formulários para amor ideal que você tenta preencher.
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