[Você pode ler este texto ao som de Call The Police]
Não é falta de amor, sabe? É só a falta de conexão. Ao longo desses dois anos que cê passou ao lado dele, você esqueceu dos almocinhos de quarta, da formatura de Cecília e de todas as noitinhas do pijama para compartilhar risadas, dores, novidades e sonhos. Nós sentimos muito a sua falta. Muito mesmo. Só que em todo esse tempo que você esteve distante (mesmo ainda morando a duas quadras do meu prédio), muita coisa mudou: as resenhas, os garotos, os restaurantes preferidos.
A gente queria (e digo muito por mim) te receber de coração e braços abertos. Mas a nossa última saída teve algo que soou constrangedor. Você não entende mais as entrelinhas, o não dito, os olhares, o contexto, os assuntos delicados. É como um integrante de uma banda que faltou os últimos ensaios e não consegue mais acompanhar o ritmo, o tom, o compasso. A nossa batida está diferente. E enquanto a gente está sintonizada em FM, você continua em AM.
Você viveu muito em função das necessidades e vontades dele, e aí chegou um dia em que não notamos mais a sua ausência. Foi aquela primeira quarta de setembro em que falamos “pode levar, não tem ninguém” para a sua cadeira preferida na ‘nossa’ mesa do restaurante italiano. E então cansamos também de te convidar. Sabe, foi lindo aquela tarde que passamos juntas quando o meu avô morreu. Nunca vou esquecer aquele abraço com gosto de saudade e, por alguns segundos, senti que a turminha estava de volta. Mas depois tudo voltou a ser distância e silêncio.
Amigo que é amigo entende as ausências. Naquela minha fase concurseira, eu não tinha tempo para nada. 24 horas era muito pouco para ser filha, dona de cachorro, namorada, estudante, estagiária e amiga. Mas ainda que não pudesse mais fazer as saidinhas no fim de semana, fiz de tudo para manter o almoço de quarta na minha agenda louca e confusa (ainda que saísse meia hora mais cedo para não perder a aula). E era mais por mim do que por vocês. Trazia leveza estar com as melhores amigas do mundo para desabafar sobre o cansaço, xingar aquele colega de trabalho chato, contar minhas aventuras sexuais, e morrer de rir com nossas historinhas. A gente não queria que você terminasse o namoro ou até mesmo passasse mais tempo com nossa turminha do que com ele. Mas sentimos falta de um telefonema, um grito no whatsapp, uma passadinha no restaurante… Qualquer coisa, sabe? Quando você preferiu apenas acompanha-lo a uma viagem de trabalho (por algum ciúme bobo), do que prestigiar a colação de grau de uma de nós, machucou. E, ali, alguma coisa quebrou.
Sua turma virou as namoradas dos amigos dele. E, agora que você acabou, elas sumiram. Não por mal. Eu sou gentil e agradável com todas as meninas que namoram os amigos de Pedro. E, vai por mim, algumas mudam tão rapidamente que eu já troquei os nomes sem querer. Saímos juntas e viajamos, mas sei que a minha amizade reside nas minhas meninas de sempre, que entendem minhas bobagens, minha vontade de pipoca com chocolate e meu medo de palhaço.
Você não precisa ser integralmente de um cara para ser inteiramente dele. Cada um precisa do seu espaço, dos seus amigos, da solidão companheira. A gente precisa beber juntas para falar o quanto Calvin Harris é gostoso (sim, eles sentem ciúme de quando elogiamos outro cara, mesmo que este cara seja um famoso cantor americano) e eles precisam do futebol com a galera da faculdade. Se você não gosta de filmes de terror, não precisa assistir com ele. Deixa ele se divertir com os meninos, e convide as meninas para entupir a barriga de pipoca numa comédia qualquer. O amor precisa respirar.
Eu espero que daqui uns dias a gente consiga se encontrar novamente e voltar na mesma sintonia. Quero mesmo sentir aquela vontade louca de não aguentar uma só hora para contar as novidades e já correr para a sua casa. Quero voltar a ler o seu olhar: saber se é drama ou se é de verdade. Quero você preenchendo os espaços e quero que o coração sinta que a nossa menina mais dengosa voltou. Voltou para as gordices, as resenhas e para a sua cadeira preferida no restaurante.
Mas, por enquanto, desde que você se afastou, a gente aprendeu a fazer outras coreografias sem você. E vai levar um tempo para pegar os novos passos e movimentos.