Me encontra no fim do túnel


[Você pode ler este texto ao som de Brand New Me]

Eu queria ter pegado na tua mão e te tirado de lá. Ter dito que ali era um canto imundo e escuro e tinha ratos e um bando de gente que só queria te sugar. Ter falado que você não precisava ter passado por aquilo, ele não precisava ter te mandado a foto, você não precisava ter passado dois meses dentro de um apartamento, a gente não precisava ter deixado isso tudo ter ido tão longe. Não precisava?

Eu achava que não, que podia te livrar da parte feia e pular logo pra aquela saída do Joá que mostra a praia e São Conrado, aquela em que você me acordava sempre que eu babava do lado do motorista. Achava que sofrer demais e parar no meio do caminho é maldição e que passar por tudo isso é o revés do que eu sentia por você, mas não. Nada disso. O engano foi meu.

A gente precisa passar por tudo isso sozinho. Amar demais me fez entrar numa negação fudida de quem queria pegar no teu braço e te puxar, te arrancar de você e te tacar na rua pra ver se você reagia. Você não queria, por que eu iria te obrigar? Levou um tempo até eu perceber que as pessoas têm o tempo delas, não importa o quanto eu ou você que tá me lendo ou você pra quem eu tô escrevendo achemos que não. Elas precisam se curar sozinhas, caso contrário os outros só vão servir pra salgar os rasgos na pele. Elas precisam passar pelo túnel escuro e ter medo, passar pelos tubos e levar um susto. Entender quem se esconde na gente e precisa sair, porque boa parte do escuro vem da gente, daquelas horas em que a gente se recusa a acender a luz.

Eu te vi em uns momentos que doeram aqui dentro, mas eu não podia fazer nada. Te lembrava constantemente de que tava ali, acho que é isso que a gente tem que fazer, cuidar e cuidar mais um pouco, mas sem invadir o espaço do outro. Afinal de contas, não é a gente que tá sentindo, não adianta querer mexer nos ponteiros que não são nossos na intenção de atrasar ou adiantar alguma coisa. Foi por isso que eu te deixei entrar nessa e fui acompanhando do lado de fora, quando cê caía, eu te lembrava que ia esperar no fim do túnel. Quando cê dizia que ia demorar pra chegar, eu montava acampamento e acendia fogueira, nunca soube se dava pra te aquecer, mas poxa, eu queria diminuir um pouco o frio. E uma hora acontece. sempre acontece.

Não sei quanto tempo vai demorar até você sair daí. Mas você precisa tomar teu tempo e passar por ele, é só mais uma fase, em quanto túneis piores você já não entrou? Eu sei que você tá a pé e deve doer pra cacete, sei porque você é meu Calcanhar de Aquiles e toda vez que eu ouço que você desistiu, eu regrido um pouco também. Eu tô exatamente aqui, parado no mesmo lugar, na porta do túnel. Cê vai se assustar com a luz, com o barulho e com tudo mais, mas é normal. Depois de um tempo dentro da gente, sair é assustador. Me encontra na porta de saída? Fico quietinho e te estendo a mão, cê vai precisar de uma puxada forte pra não desistir de tentar ver o mundo aqui fora. Quando tudo isso passar, me encontra no fim do túnel. Eles vão ter passado, mas eu não. Eu já vou ter passado por tudo isso com você.


Hey, o meu livro “Por Onde Andam as Pessoas Interessantes?” está à venda. Se você gostou desse texto, acho que vai gostar muito do livro. Dá uma olhadinha aqui e aproveita pra comprar logo o seu antes de todo mundo! 😀

Venda na livraria:
Saraiva: http://bit.ly/1fgk7pf
Travessa: http://bit.ly/1Sjtsth
Folha: http://bit.ly/1IVIZi5

E eu também criei um canal no Youtube e ficaria muuuito feliz se você fosse lá conferir os vídeos. Só clicar aqui.

Aproveita e já se inscreve no canal porque tem muita coisa legal vindo por aí!

bovonew

*Para fins de direitos autorais, declaro que as imagens utilizadas neste post não pertencem ao blog. Qualquer problema ou reclamação quanto aos direitos de imagem podem ser feitas diretamente com nosso contato. Atenderemos prontamente.

Comentários