Como se fosse a segunda-primeira vez


Parei em frente ao armário em busca da camisa perfeita, e só depois de me lembrar que você gostava de botões e mangas dobradas nos cotovelos que consegui me decidir.

Desde que soube que você também estaria na tal festa, eu tenho travado lutas enormes com a minha ansiedade (e perdendo todas elas). Tentei me acalmar lembrando que já te conheço bem, que te conheço por inteira e que te rever após tanto tempo não seria nada demais. Até parece.

Cheguei mais cedo num fato inédito nestes meus vinte e poucos anos.

As horas e alguns copos e alguns vestidos e alguns casais se passaram e eu comecei a achar que talvez você nem fosse aparecer. Cruzei a sala pra encher a cara. O que mais a gente faz numa festa quando quem a gente quer não está lá? A gente bebe pra fingir que tá.

A música tava alta, eu não saberia dizer qual tocava porque na minha cabeça o que estava passando era um loop de George Harrison dizendo que eu não precisava de nenhuma outra. E Lá do outro lado eu te vi. Você era ainda mais bonita do que eu conseguia lembrar, droga de memória que me fez esquecer disso. Tentei dar o meu melhor para te ignorar, até masquei chiclete e pedi um cigarro (não fumo), mas engasguei e achei melhor deixar pra lá.

Você tava há poucos metros, mas algumas vezes poucos metros parece ser a distância mais difícil a se percorrer. Revivi toda a nossa história, mas parecia era que eu tava correndo há 40 minutos na esteira da academia. Afobado, era assim que eu tava por dentro. Do primeiro beijo roubado à briga, e quase tropecei no meu pé direito quando fui falar com você. Já sabia que tudo o que tinha acontecido era pesado. Quem diria: a saudade pesa também.

Não sabia se eu ia te falar tudo, mas é que eu senti como se tivesse carregando o mundo. sabe aquela cena mentirosa em que o Superman segura uma ilha inteira cheia de kriptonita? A diferença é que a minha cena não era mentirosa. Quase te dei de costas e peguei a primeira saída de festa, quase fingi que eu não tava vivendo aquela cena de escola-americana-em-época-de-formatura.

Só que você me chamou.

Os metros foram ao quadrado, senti minha perna tremer e não sei até agora se era amor ou se eu tava embriagado, mas te disse. Você disse “oi”, respondi enrolado. No fim das contas, você só riu enquanto eu proclamava, argumentava, tagarelava que a gente ainda pode acontecer. Que a gente pode fazer isso dar certo como se fosse uma segunda-primeira vez.

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