Não é por você que eu choro


[Você pode ler este texto ao som de Salted Wound]

O amor foi coisificado e às vezes me pergunto se cheguei a conhecê-lo.

“Onde estão as pessoas interessantes?”, me pergunto enquanto ignoro uma mensagem no WhatsApp.

Desde que você foi embora deixando lacerações, fraturas expostas e um tremendo gosto de cabo de guarda-chuva na minha boca, ninguém parece bom o bastante.

Não que você fosse tudo isso. Lembro bem dos seus preconceitos, que entregavam um medo infantil e bobo, um medo de quem não estava pronto para encarar o mundo.

E mesmo com tantas faltas e falhas, sua ausência deixou um buraco que eu não sei se quero preencher.

Quando esfregam na minha cara que foi horrível, que você não me amou e que nem era tão bonito assim, sinto uma preguiça enorme.

As pessoas não entendem que reinventei você. A falta e a distância serviram de maquiagem e reinventei você com menos defeitos, mais generosidade, músculos e dentes branquinhos.

Parece que a porra dos meus amigos esquecem que o afastamento e a saudade enlouquecem.

Enlouqueci.

Nos surtos mais intensos chego a derramar lágrimas quentes enquanto deito em posição fetal.

Sei que você não vai voltar. Não importa. Vê? Não é por você que eu choro, mas por quem criei a partir do que vivemos.

E foi tão foda, tão perfeitamente foda o que a gente viveu na minha imaginação, que eu duvido que apareça alguém para me salvar.

Meu deus, amei tanto quem você poderia ser… Por que é que você não foi?

Recebo convites de casamento, convites para Chás de Bebê e open house. As pessoas seguiram suas vidas. Só eu estagnei.

Fiquei presa no ponto do jogo em que perdi todos os pontos. Sou mera espectadora da vida alheia.

E todas as vezes que visto minha melhor roupa, todas as vezes que pinto os olhos e escovo os cabelos, sempre que me monto e saio com a palavra “superei” escrita na testa, pronta para rir alto e responder “tô ótima” quando perguntam, na verdade estou gritando por socorro, atirada ao chão, de pijama, entre lágrimas e rímel.

Não foi o final. Não! Não foi o término e não foi a rejeição.

Fiquei assim porque me assustei. Ainda estou assustada. Sempre estarei assustada.

Me choca que eu tenha vivido uma história ao lado de alguém que não conheci. Me choca que as pessoas acabem romances e sigam suas vidas depois de sobremesas, camas, sonhos e planos divididos.

Me choca que só eu não consiga. Onde estão as pessoas interessantes?

Flavia1

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