Antes mesmo da série ir ao ar, um teaser de divulgaçãode “Dear White People” (“Cara Gente Branca” na tradução) lançado no Netflix causou reboliço entre o público norte-americano, que se mobilizou para dar “dislikes” no vídeo. O resultado? Mais de 400.000 avaliações negativas no teaser onde uma garota negra expunha um problema retratado na série: o racismo velado em uma festa à fantasia, onde brancos usaram o “blackface” (prática de pintar o rosto para parecer uma pessoa negra – prática associada ao racismo). Mesmo assim, após sua estreia, a série foi avaliada com pontuação máxima (!!!) no Rotten Tomatoes, um site americano especializado em críticas de produções audiovisuais.
Em 10 episódios, somos apresentados a Sam e a algumas de seus ‘colegas’ de faculdade. Somos apresentados à diversas facetas do movimento negro, e embora isso mostre que mesmo dentro de um único movimento há divergências, todos os pontos de vista nos levam a entender uma questão muito maior: o racismo velado e outras discussões difíceis de serem digeridas, mas igualmente necessárias de discussão.
E a trilha sonora?
Se formos falar de trilha sonora, outra nota máxima! Em 10 episódios somos apresentados a inúmeros artistas negros que não são tão evidenciados na mídia. São dezenas de músicas incríveis que cantam a causa em batidas incríveis. Mais representatividade!
Por mais que a série (e os boicotes à mesma) evidencie que uma enorme parte da sociedade não está pronta para ver uma série com tantos personagens negros e as questões do movimento, o elenco é brilhante. Todos eles atraem a atenção sem o típico estereótipo pejorativo. Eles fazem questão de enfatizar o que Shonda Rhimes já fazia em suas séries (como Scandal, Grey’s Anatomy e How To Get Away With Murder): precisamos de negros empoderados em papéis importantes, em todas as esferas. Seja como diretores de hospitais, advogadas de sucesso, diretores do grêmio estudantil e chefiando movimentos de manifestação. Só assim perdemos a ideia já vinculada de negros a papéis que reforçam o racismo (que sempre insistia em colocar os negros em papéis de personagens perigosos e/ou que estão às margens da sociedade).
E falando em protagonismo, temos mais uma vitória para a série, que não quer um líder perfeito que defina totalmente um movimento. A série faz questão de estampar que fazemos o que podemos pela igualdade de direitos. Isso nos lembra que os líderes não têm que ser perfeitos, que os militantes não vivem a causa o tempo inteiro e isso é bom. É bom porque, humanizando os movimentos mostrando suas vertentes e nuances, pode ser capaz de popularizá-lo.
“Dear White People” já está disponível para streaming com uma produção impecável, sendo engraçada sem estereotipar, irreverente sem ser apelativa e encontrando sua voz mesmo em meio a boicotes. Sam e seus colegas estão esperando para causar um incômodo necessário e tirar os espectadores de uma bolha utópica acerca do que se acredita sobre racismo velado, violência policial contra negros e até sobre padrões de beleza. Isso significa que em dez episódios você vai se perder em meio a discussões necessárias, boa música, ótimas atuações e dramas reais de tirar o fôlego, fazendo você refletir e olhar para si mesmo, questionando suas próprias posturas.
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