Tive uma reunião nessa semana e São Paulo não funciona na chuva. Ou melhor, funciona menos que o normal, o que significa que funciona bem mal. Pedi um táxi torcendo pra me ver livre do trânsito da Paulista, mas não tive sorte. Chegaria atrasado pra bendita primeira reunião do trabalho novo.
Fui lendo um livro enquanto o taxista ouvia a rádio matinal. Num desses lampejos de desatenção entre uma olhada na página e no taxímetro, ouço a locução comentar o seguinte diálogo:
– Hoje é 7/7. O que será que isso significa?
– As energias astrais devem buscar significância pra uma data dessas.
Completei mentalmente a pergunta sobre a data com um sonoro “isso quer dizer nada”. Nada? Nadica, coisa alguma. Significa que a gente tem um hábito besta de atribuir significado a qualquer coisa.
Eu sou assim, sempre fui. Se chove num dia em que havia planejado caminhar, só poderia ser uma dica pra que ficasse debaixo das cobertas. Se conheço alguém numa situação especial, o tal relacionamento deverá ser especial. Se uma borboleta pousa em minha roupa, é claro sinal de felicidade. Isso pra não contar as besteiras menores que ganham significados tremendos.
Passamos a vida atribuindo significados cósmicos a coisas comuns. Queremos ver metáforas em tudo, achar que o cotidiano é mais importante do que é. Não acho que seja de todo ruim, é uma forma de fantasiar a vida monótona que a gente leva por aí quando não há nada de especial rolando. Mas também é perigoso. Vemos significados místicos no fato da paixonite ter falado com a gente. No fato do chefe ter olhado de rabo de olho. No fato da mãe dizer que está com saudades e que precisa vê-lo urgentemente.
Nem tudo tem um significado secreto. Às vezes as coisas são simples mesmo, e querem dizer exatamente o que elas querem dizer. Sem dramas, sem bastidores, nada acontecendo na coxia. Se a paixonite falou com a gente, pode ter sido só pra perguntar ou passar alguma informação. Se o chefe olhou de rabo de olho, pode ter sido o momento e não quer dizer que você será demitido. E mães sentem saudades o tempo todo, elas não estão morrendo por isso. Nem o destino quer se comunicar com você o tempo todo.
Eu mesmo, enquanto entrava no táxi, achei que a chuva seria um sinal pra que eu não fosse a tal reunião. Bobagem minha. No máximo, era a natureza pedindo pra que eu largasse o livro e o celular e apreciasse a chuva caindo, coisa que amo fazer e não tenho feito. Mas cá entre nós, ainda acho que não era nada disso. Nada além de chuva.
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