[Você pode ler o texto ao som dessa versão de Baby]
Eu era muito arredio em relação aos meus sentimentos – ia da negação completa do que sentia à vergonha extrema de admitir tudo. Com o passar dos anos, eu vi muita coisa passando. Vi muita gente passando e eu deixando passar porque, bem, eu não tinha motivo nenhum pra fazê-los ficar.
Quando a gente não diz o que sente, o outro vai embora sem saber que talvez tivesse um motivo pra ficar. Um não, vários. Um montão, no seu caso. Você podia ter ficado porque eu não tinha vergonha de ficar pelado rolando na cama com você enquanto a gente mexia no snapchat. Você podia ter ficado porque eu sujava todo o seu fogão com a tapioca, escondia a Nutella, enquanto você acha que eu tava tentando ser mais fitness. Você podia ter ficado porque, bem, eu teria te conquistado nas pequenas coisas se tivesse dito.
Ontem eu tava ouvindo Grand’ Hotel, do Kid Abelha, que eu amo pra caramba, e percebi que eu sou o completo oposto da música. Eu tinha que ter dito tanta coisa, tinha que ter tido pressa, porque sim. Antes eu freava pra tudo. Era tão expert na arte da autossabotagem que nem precisava de carteira de motorista: dirigia minha vida sentimental com tanto cuidado que uma vez fui multado por ir devagar demais. Tempos difíceis para os sonhadores, amigos. Ou pra qualquer pessoa que tentasse se relacionar comigo, porque veria em mim um daqueles caras impenetráveis de tão meticuloso que eu era.
Ainda bem que a gente muda. Isso hoje é um defeito meu, daqueles que todo mundo recrimina, tão defeito que eu já aceitei como parte de mim e já proclamo que eu não sei descer ladeira brecando a embreagem. Por que a gente precisa adiar o que sente pra não assustar o outro? Bobagem pura. Se não me quiserem agora, por que me quereriam mais tarde? Eu digo tudo, eu digo depressa, eu parei de me segurar. Não a tempo de praticar a minha falta de filtro sentimental com você.
Cê precisa saber que eu termino toda noite ouvindo Baby dos Mutantes (sim, é uma das músicas que amo, daquelas decoradas que já usei em outros textos). Cê precisa saber que eu penso em você até na hora de escolher café, nunca mais pedi café-com-leite, acho muito morno pra quem quer deixar algum gosto na vida do outro. Aprendi contigo. Cê precisa saber que eu fui embora de fininho do teu quarto por medo de te acordar, mas queria ter ficado. Não fiquei por medo de não fazer diferença, já que a sua cama era grande demais e você nem me notaria. Cê precisa saber que eu não disse que te queria, te queria pra caramba, ainda quero, mas agora é diferente. Agora eu digo pra quem chegar. Agora já é meio tarde. Você já foi. Cê foi e nem soube.
Muita gente na vida de quem tá lendo esse texto já foi também. E bate um medo absurdo de perder mais gente, ao mesmo tempo em que tenho certeza que alguns ainda se justificam dizendo que falaram tudo e perderam do mesmo jeito. Falo com você, leitor, não com o outro interlocutor desse texto. Me deixa te contar um segredo? Morrer engasgado deve ser horrível. Nunca sofri disso literalmente, mas imagino a angústia de quem vai perdendo o ar e fechando os olhos porque deixou muita coisa presa na garganta. Eu não deixo mais, por experiência própria, porque já vi amores morrendo porque eu cismava em manter tudo aqui dentro. Agora eu digo, falo, grito, sem medo de me acharem apressadinho demais. Perco se tiver que perder, mas nunca mais por minha culpa. E você, caro leitor, deveria fazer o mesmo.
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