[Você pode ler este texto ao som de Timebomb]
Você tava correndo na rua, dizendo umas coisas confusas. Gritava pra mim que era melhor subir nos bancos antes que eles viessem, que era melhor sujar a roupa toda de sorvete, que você odiava os dias úteis e o terno e o sapato apertado e trocaria tudo pra viver no Rio de Janeiro. Disse que não entendi como eu tinha trocado aquilo tudo por São Paulo. Eu só ria.
Você pedia pra eu não me desesperar, eu reclamava muito, ainda reclamo, mas hoje em dia é diferente. Pedia pra eu prestar atenção no jeito de andar, dava pra saber meu signo só de ver como eu curvava a coluna ou estufava o peito. Você é um orgulhozinho, não é? Você dizia tudo com um puta sorriso na cara e brindava ao fato de a gente estar vivo. Estar vivo basta pra você? Pra mim basta. Estar vivo e você. É o que basta.
Você foi a pessoa mais chata que eu já conheci, daquelas que acordam de manhã e conseguem ser feliz. Eu sou uma ameba antes das 10h e você tava lá montando o slack line, botando a prancha pra fora, tomando sol e dizendo que a vida é muito curta, por isso a gente precisa aproveitar antes que eles cheguem.
Te escrevi no peito. Shelter. É abrigo, em inglês, mas também poderia ser o seu apelido. Falei pra minha mãe, contei pro meu melhor amigo, até escrevi num blog que eu tinha, mas acho que nunca te falei como você tinha sido a melhor coisa que eu encontrei, um daqueles achados curiosos que fazem a gente se perguntar se é sonho ou realidade. Depois de você eu até comecei a respirar melhor. E você me mandava ter pressa, mas por que pressa, amor? Porque eles tão vindo.
Eu chorei quando o Dobby morreu e você riu. Chorei com o Marley e você também riu. Em chorei em Still Alice e você gargalhava. Se não te conhecesse, te acharia insensível demais, mas é que você não tinha medo da morte, você não tinha medo de ir embora. E me perguntava se tu tinha medo de. Eu tinha, medo de você ir embora e me deixar aqui, eu não saberia o que fazer do mundo, meu bem, não sem você. Por isso era importante ter pressa, porque uma hora eles chegam, você dizia.
Você tava correndo na rua, dizendo umas coisas confusas. Até que eles chegaram, chegaram numa madrugada em que eu acordei com o telefone tocando. Chegaram e eu fui desesperado no carro, você nunca me disse, só me pedia pressa. Eu acelerava, acelerava, acelerava e tinha pressa, como nunca tinha tido na vida. Troquei o Rio por São Paulo porque não fazia sentido ver tanta coisa e tanta gente e não encontrar você. Eu reclamava, reclamava, reclamo até hoje, mas agora é diferente. Shelter, lembra? Você nunca teve medo de ir embora, mas eu tinha.
Eles chegaram. Eu chorava, amor, e você ria.
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