[Você pode ler este texto ao som de I Will Wait]
Hoje foi um daqueles dias em que levantar da cama foi um martírio. Só queria poder ter ficado trancado no quarto, olhando pro teto, fazendo o básico pro dia não passar em branco. Tem horas em que todo mundo se sente assim, com vontade de ser intocável, de se resguardar num quarto escuro por horas e horas. Enquanto isso, pipocam mensagens de apoio, de “sai dessa”, de “vamos sair”, de “para de palhaçada” e afins. Por que as pessoas não entendem que não há problema em se sentir triste?
Vejo um movimento em prol da felicidade, do bem estar, de estar sorrindo o tempo todo. É uma motivação nossa querer animar quem a gente gosta quando a pessoa tá pra baixo, como se a gente achasse que estar triste fosse algo penoso que ninguém precisa passar. Eu entendo o lado bom e agradeço, mas me sentir triste faz parte de um processo de renovação que as pessoas não parecem entender.
Quando a gente se sente triste, a gente mergulha mais um pouco na gente. É como se nós tivéssemos tirado o dia pra ficar em silêncio, observar com olhos pesados as coisas, manter o mínimo de contato possível com os universos paralelos dos outros. É um modo de coexistir no mundo – a gente tá ali, mas não tá, tá afundado na gente, repensando e sentindo tudo com mais intensidade. É um processo necessário esse da tristeza: pra se livrar desse sentimento de pesar, nós precisamos senti-lo até que ele se esgote. Digo sempre pros amigos com pós-namoro traumático, ou que foram demitidos, ou que tiveram uma perda pessoal grande que é importante que eles sintam. Sintam, chorem, botem pra fora tudo. Já disse isso antes e repito: a gente não apaga a triste, não extingue a angústia, não exila o peso pra fora da gente porque eles são sentimentos cíclicos. Nós os drenamos, e pra isso a gente precisa sentir tudo, como se fosse uma catarse necessária pra botar pra fora.
É por isso que eu ponho óculos escuros e ando em direção ao metrô com a minha playlist de instrumental clássico, que é pra sentir melhor. É por isso que eu fecho a porta do quarto quando chego em casa e apago a luz, respiro fundo e deixo o mundo lá fora. É por isso que eu choro uma, choro duas, sinto o peito pesar pra caramba e deixo isso tudo ir saindo aos poucos de mim, seja através das palavras, do choro, da respiração ofegante, da corrida noturna, do soco no saca de areia ou do sono pesado.
Cada um tem a sua maneira de lidar com a tristeza. A gente deveria entender melhor e respeitar isso. Nem tudo é caricato e você ainda vai ver muita gente triste pulando em festa animada durante a semana, comendo um McDonald’s às 3 da manhã, enchendo a cara na hora do almoço, desligando o smartphone pra não ter contato com mais ninguém e por aí vai. O importante é descobrir a sua válvula de escape pra sentir tudo, pra se sentir triste e isso não se tornar algo pior. Se a gente não sente, acumula. E tristeza acumulada é uma das piores coisas que se pode sentir.
Avise aos amigos que eles não precisam se preocupar, você pede ajuda se precisar. Diga que não quer ir na tal festa se você não quiser ir mesmo e ponto final. Não tem disso de se obrigar a sentir algo que você não tá sentindo. Vai por mim: quando você se permite sentir tristeza e respeita a sua (e a tristeza alheia), isso causa uma baita de uma felicidade particular que só você vai entender.
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