[Você pode ler este texto ao som de Riptide]
Se você acha que viver custa nada, entre na fila dos que acreditam em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. Ou na fila dos que esperam milagres. Viver é caro pra cacete.
Fazer mercado é caro e não tem como escapar porque você precisa comer. Vestir-se no frio custa mais do que no verão, mas ainda assim é caro. Transportar-se é caro, seja por gasolina ou metrô, imagina a bufunfa no fim do mês. Se a gente acha caro, imagina quem tem condições bem piores que as nossas.
Ter liberdade é caro, já que você tem um leque de opções mais colorido que qualquer Parada Gay pra escolher. Viajar pelo mundo, ou até mesmo dentro do Brasil, é caro. Escolher destinos, passagens, hospedagem, programação turística, compras.
Almoço bacana? Caro. Jantarzinho com as amigas? Caro. Até o pastel com caldo de cana anda saindo pelo preço de uma refeição na periferia. Noutro dia fui pra um barzinho com uns amigos e em menos de uma hora da cerveja mais barata da casa já tinham ido mais de cinquenta reais.
E se você acha que amar é de graça, volte cinco casas no jogo da vida. Mas volte andando que é pra ajudar o meio ambiente e economizar.
Amar é caro pra cacete.
Amar requer separar umas horas que você gastaria com a sua série preferida assistindo outra série que pode não ser tão preferida assim só pra agradar a companhia. Amar requer incontáveis ligações de telefone e deslocamento para festas infantis da família. Amar pede que você seja consciente e dispense a cozinha nos fins de semana pra comer fora e aproveitar um pouquinho do tempo em que os dois podem passar juntos sem ter trabalho algum. Amar é não se importar com o preço de alguma coisa que você achou a cara da pessoa e que a deixaria muito contente, seja um box de O Grande Chefão ou uma almofada que brilha no escuro. Amar é pedir um táxi de madrugada no débito, mesmo que seja fim de mês, só pra fazer as pazes.
Nem sempre amar vai te fazer gastar dinheiro, mas é caro pra cacete do mesmo jeito porque exige bastante em qualquer que seja a sua moeda de troca. A diferença é que amando a gente não sente no bolso, não reclama no fim do mês, não vai atrás de ajuda com algum agiota sentimental. Amando a gente paga o pato e o preço, aguenta os períodos de baixa, resiste mais um pouco pra fechar a conta, porque no final do dia nada paga a sensação de estar verdadeiramente amando alguém.
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