Eu menti que não te amei


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Eu menti que te esqueci. Com a voz meio falhada, a mão suada de nervoso e um daqueles apertos agudos que a gente só sente quando sabe que vai perder alguém pro resto da vida. Eu menti que te esqueci naquele bar na esquina da minha casa que cê adorava encher a cara toda sexta-feira, lembra? Eu tava virando uma dose de tequila e tentando me livrar das mil doses de você que ainda tenho aqui dentro quando me perguntaram de nós dois. E eu menti.

Eu menti que não doeu. E não contei que passo pela rua do seu prédio todos os dias indo pro trabalho e penso rápido: se eu subir, ainda tem lugar pra mim? E não contei que acordo no domingo esperando o cheiro do chocolate quente que você sempre trazia pra me acordar. Nem falei que te procuro pela cama nas madrugadas geladas de São Paulo pra você me aquecer com aquele seu abraço que sempre foi o meu abrigo. Eu só menti que já não dói.

Eu menti que não faz falta. E escondi que é entre os meus silêncios que sua ausência grita, ainda que eu esconda tão bem por trás dos meus sorrisos planejados. E abafei a vontade de gritar que é entre um buraco e outro de cada frase dos meus textos que eu fico caçando palavras pra substituir você – e não acho. E que eu tentei me preencher com outros risos, outros beijos, com muito álcool, e não deu.

E a porta ainda tá aberta, e eu não deletei seu celular da minha agenda, e eu ainda frequento seu restaurante preferido – tudo uma tentativa frustrada de ajudar o acaso a nos trazer de volta pro eixo. Mas eu menti que tinha passado. Que eu me que refiz, como a gente sempre se refaz após qualquer fim – dolorido ou não. Que eu toquei a vida, cara, e não tô nem aí se você já encontrou outra que escute a voz rouca que cê tem logo quando acorda. Outra que chegou e ocupou o lugar que eu deixei vago.

Eu menti que te esqueci. Naquele bar que cê adorava. E sobre as noites de insônia, sobre o seu cheiro que eu ainda encontro nos cantos de casa, sobre a saudade do som da sua risada, sobre a dor chata que eu ainda sinto sempre que escuto as músicas que supostamente eram nossas, sobre tudo o que a gente foi e tudo que era pra ter sido – não, eu não falei. Porque eu preferi mentir pra todo mundo que eu nunca te amei.

Karine

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