Viva sua vida (e não obedeça aos mais velhos)


[Você pode ler este texto ao som de I Lived]

Regra número 1 lá de casa sempre foi ouvir vovó sem pestanejar. Isso significa dizer que não importa o que ela diga, ela tem razão e a gente (eu e meu irmão) não podia contestar nada. Nadica de nada. A voz da experiência tem alguns anos à frente, diz minha mãe. O mesmo vale pra ela e pro meu pai: ambos têm uns 20 anos a mais que eu, portanto, mais experientes. Ouça e obedeça-os, quer te agradem ou não, diziam eles enquanto justificavam que os mais velhos já passaram por muito e sabem mais que a gente. Discordo.

Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que ninguém pode viver a sua vida por você. Seus pais e seus avós vão ser sempre fonte de consulta, mas você não pode nunca se esquecer de que eles viveram outras épocas, trilharam outros caminhos e tinham perspectivas muito diferentes das suas. Provavelmente eles vão dar conselhos e fazer de tudo para te proteger de quedas e falhas pelo caminho, mas o problema é que você precisa dessas quedas e falhas. Qual é o sentido de caminhar por aí e trilhar a sua vida se protegendo de tudo? Não dá pra entender de dor sem se machucar, não dá pra valorizar a sanidade sem ficar um pouco louco. Costumo dizer que a gente precisa conhecer os opostos pra lembrar como um deles é sempre melhor pra gente.

Meus pais vieram de origem pobre e com muito custo construíram a vida estável que têm hoje. Trabalharam a vida toda como vendedor e diarista, entre outras profissões. Até que conseguiram abrir uma empresa e levar a vida numa correira de 10-12h de trabalho por dia. Papai sempre me mandou trilhar uma carreira tradicional, porque o que importava pra ele era estabilidade. A vida dele, o caminho que ele trilhou, as pancadas que tomou ensinaram que o mais valioso bem pra ele é poder ter uma vida estável, comedida, com os luxos que conseguiu alcançar através de muito suor. Eu não o ouvi, fui pra publicidade, vi um mercado que não paga tão bem assim e apostei em escrever sobre sentimentos e sonhos no meio do caminho. Eles desencorajaram, disseram que eu ia me ferrar. Uns anos depois, cá onde estamos, eu me preparo pra lançar meu primeiro livro e conquistei vitórias pessoais que me mostraram que fiz bem em não obedecê-los. Sabe por quê? Eu não sou eles. Eu não vivi a vida deles, nem eles poderiam viver a minha.

Escutei tudo o que os mais velhos poderiam dizer e acho que você deveria fazer o mesmo. Mas acatar de braços abertos sem ponderar nada e sem distinguir o caminho que você faz do caminho dos seus pais ou avós ou dos seus exemplos de vida é o mesmo que trilhar um caminho comprado, encomendado pra você por alguém que não é você. Natural é perder, natural é encontrar, já diria Caio Fernando. Você precisa tomar na cara, esbarrar, se perder, olhar o mundo, viver um pouco e apostar nas coisas em que você acredita de todo o coração que são as coisas certas. O mundo se encarrega de te botar no eixo certo pela tentativa de erro e acerto.

Isso serve pra conselhos em geral, na verdade. Conselhos são opiniões de quem tá fora, de quem não sente o que você sente, de quem pode tentar se colocar no seu lugar, mas nunca será você. Conselhos são ótimos para fazer a gente refletir sobre um mundo de coisas, mas nunca serão decisões encomendadas, nunca vão poder decidir por você. Não é que as pessoas sejam más e queiram te desviar do caminho, pelo contrário, elas querem te proteger de tudo (quem te quer bem) mesmo quando o que você precisa é se deixar vulnerável e se proteger de nada.

Por conta disso, tratei logo de quebrar a regra número 1 lá de casa e passei a não obedecer mais aos mais velhos, sejam meus pais, meus avós, meus heróis ou amigos. Entendi que os conselhos deles serviriam como pontos de reflexão e, principalmente, não poderiam ser responsabilizados pelas minhas atitudes. O peso da decisão é todo meu, ou seja, o crédito pelo acerto ou pela falha é todo meu. Confesso que sinto um pouco mais de orgulho de mim quando penso nisso, por parar de responsabilizar os outros pela minha vida. Porque a vida é difícil pra caramba, mas você vai se orgulhar de dizer que viveu quando finalmente assumiu as rédeas dela e parou de fazer os outros viverem a sua vida por você.

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