Pra você deitar aqui


[Você pode ler este texto ao som de Never Gonna Leave This Bed]

Essa semana eu achei um caderno velho com umas anotações e o seu nome rabiscado sublinhado decorado com uns ariscos e solto no meio da folha, bem em evidência, que é pra te dar destaque. Lembrei de você baixando a cabeça e eu posso esconder seu cabelo na orelha pra ver melhor teu rosto? Não pede, mas pode, meu bem, só faz.

De qual dinastia descende o nosso amor? Nem os meus antepassados nem os teus desconfiariam que no meio de uma aula sem graça sobre alguma coisa ética, alguma coisa filosófica, alguma coisa que dizia que o sossego mata e que o “pra sempre” não existe, ninguém desconfiaria que eu te puxaria lá pra fora pra pular ladrilhos do chão e remar, remar, remar num corredor feito de ondas. Paro e te digo que não foi acaso porque acaso é só quando a gente não sabe. Foi amor e eu sabia, sabia que queria te ver deitar nas minhas pernas pro resto dos outros dias. Desse ano e dos próximos.

Eu sei que às vezes as coisas ficam difíceis como têm sido, mas isso passa. Passa tudo, passa um mundo de coisa, mas passa pela gente quando você se lembra o que trouxe a gente aqui. Passa porque uma vez você me disse que o futuro era incerto e que a única certeza que você tinha era a de que queria passar por ele comigo. Disse isso e me deu a mão num dia que fez 14 graus no Rio de Janeiro, e a gente usava cachecol. Disse isso quando me perguntaram se a gente tinha alguma coisa e eu disse que não – e eu nunca me arrependi tanto de uma resposta quanto essa que eu dei.

A gente não tinha coisa alguma, mas agora tem. Tem um sofá na sala e um box da série que não é a sua preferida, mas serve pra passar o tempo com você comigo. Tem o outro e dois edredons pra quando você vem dormir aqui em casa. Tem a nossa forma de mostrar que amor faz barulho, mas é silêncio. E o nosso silêncio não corta.

Te conto tudo isso porque senti sua falta nas últimas horas, e senti falta dos teus botões. Falta de desabotoar a mágoa e pedir desculpas, pedir comida num fast food da vida e pedir pra você mexer no meu cabelo. Pedir hashi e te ver pegando os garfos, porque as coisas já são difíceis demais pra gente botar mais obstáculos na frente. Pedir abrigo e te ver contando dos sonhos que eu nunca sonhei, mas que são meus por tabela porque eu gosto mesmo é de te ver feliz. Te conto tudo que é pra você deitar aqui e só sair de manhã cedo por causa de algum compromisso na agenda. Conto e puxo e obrigado, meu bem, por ter cabulado, por ter fugido comigo da aula que dizia que o sossego mata quando, na verdade, ele acalma. Quando eles diziam que o “pra sempre” não existe e a gente preferiu não ouvir e remar, remar, remar.

bovonew

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