[Originalmente escrito por Ari Eastman no Thought Catalog]
Existe uma frase que a minha mãe usa frequentemente (uma variação da famosa frase de Maya Angelou) que acho que finalmente entendi.
“Quando alguém te diz quem é, acredite nele na primeira vez.”
Eu acho que nunca acredito neles na primeira vez. Sempre acho que existe algum significado oculto, aquela coisa que vai aparecer conforme o tempo for passando. É o “eu vou te machucar.” ou “você merece alguém melhor que eu.”
“Você é incrível, mas eu estou confuso agora.”
Eu ouço as palavras. E eu as ignoro. Como se fosse uma criança que continua colocando a mão no fogo mesmo sabendo que uma hora vai se machucar. Eu continuo repetindo. Continuo insistindo, achando que dessa vez vai vai dar tudo certo. Eu continuo me esquecendo o que acontece quando você toca o fogo.
Machuca.
Talvez um professor de psicologia explique essa coisa meio pai, essa estranha vontade que eu tenho de colocar curativos nos corações machucados com os quais cruzo por aí. “Eu gosto dos feridos”, eu sempre brinco com isso quando meus amigos falam dos meus últimos casos. E eu os lembro que somos todos feridos de alguma forma. É uma palavra desagradável essa, ferido. Todos nós pensamos em quanto estamos feridos e machucados. Mas na verdade é só um sintoma de que estamos vivendo há algum tempo. Nós só provamos quão humanos nós somos.
Eu namorei, ou pelo menos me relacionei com todos os tipos: os viciados, depressivos, ansiosos, perdidos, os que precisavam de auto-afirmação e amor. Não é que eu pense que consigo consertar alguém. Eu sei que tenho meus próprios problemas e questões a resolver. Talvez seja mais fácil focar nos problemas alheios. Eu realmente gosto de cuidar das pessoas. E sou melhor cuidando delas do que de mim mesmo.
Eu colocaria minha energia nisso. Porque a depressão dele não é tão assustadora quanto a minha. A minha parece tão feia enquanto a dele… A dele me faz querer segurá-lo. A dele me faz querer tocá-lo e amá-lo e dizer que vai ficar tudo bem. Eu não gosto de gostar disso. Não é saudável, eu sei disso. Eu sei de tudo isso.
Acredite nas pessoas de primeira. Ouça o que elas estão dizendo tanto quanto se você quisesse que aquilo significasse outra coisa. Nós queremos que signifique outra coisa.
Mas aqui está a verdade brutal, aquela que eu me esqueço diariamente.
Quando alguém te diz que você merece algo melhor, ele está te dizendo para seguir em frente porque não se importa com você a ponto de querer ser alguém melhor. Ele não vão gastar a energia e o esforço que você merece. Eu quero dizer que isso não tem a ver com você, que não é sua culpa, mas ele vai encontrar alguém que ele considere importante o suficiente para ser melhor. A tal pessoa não é você, me desculpe. É uma bosta, é horrível e eu quero abraçar você porque eu sei como isso é. Eles sabem que você merece algo melhor. Mas eles não vão ser essa pessoa melhor. Ouça.
Quando alguém te diz que vai te machucar, ele vai te machucar. Eu não acho que ele seja malicioso ou cruel. Ele não está planejando um modo de destruir sua vida, encostando as costas numa cadeira, batendo os dedos na mesa e esperando o momento perfeito para te atacar. Mas ele se conhece. Todos sabemos quem somos, mesmo que não admitamos isso. Ele vai te machucar. Ele sabe disso. E talvez, no fundo, você também saiba disso. E quando acontecer, ele vai te dizer “eu disse, eu disse que aconteceria.”
Quando alguém te diz que é uma confusão, ele está te alertando. Não é que ele tenha muitos problemas ou seja muito machucado. Mas é uma boa desculpa. É algo guardado para chegar lá na frente e dizer “eu te disse, eu sou uma confusão”. Isso é um modo de culpá-la, um modo de se ver livre da responsabilidade. Essa é a garantia para qual eles podem apontar e dizer “olha, desculpa, eu avisei”.
Quando alguém te disser quem é, acredite de primeira.
Eu estou tentando fazer isso.
[Adaptado por Daniel Bovolento]
