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Sempre fui do tipo que gosta de cuidar de alguém quando entra numa relação. Por gostar de ter certeza do terreno onde piso, eu sempre quis representar a pessoa que sabe o que tá fazendo ali. Queria ser a parte concha da conchinha, queria oferecer o peito pra deitar, queria ser o cara que conduz a valsa. E isso sempre refletiu muito nos meus relacionamentos.
Veja bem, não era nenhuma neurose controladora. Eu só gostava de me sentir necessário, de me sentir o porto seguro de quem tava comigo. Até que meu primeiro namoro longo acabou. Até que a tentativa do segundo foi um fiasco. Até que o terceiro mudou muita coisa na forma como me via e foi um aprendizado enorme no início, meio e fim.
Depois do último fim, eu mergulhei num universo que era a minha cara: a loucura workaholic dos projetos e da vida adulta cheia de responsabilidades. Tive alguns bons encontros, mas nada além de encontros, nenhuma troca mais profunda. Eu cortei a coisa pela raíz nesses últimos meses sempre que me via na desagradável situação de nunca ter tempo pra cuidar de quem poderia vir pela frente. Num ato conformado de me convencer disso, eu abandonava a causa e me despedia. Melhor assim, não vou ter que como cuidar de você, eu disse (mais de uma vez).
Até ontem.
Até que eu cheguei em casa depois de virar duas noites trabalhando, com uma gripe insuportável, com as dores de cabeça de tudo o que eu tinha que fazer e entregar. Pensei no estresse e na falta de companhia, mas tudo bem, me falta tempo e eu vou ter que conviver com esse dilema: ao mesmo tempo em que quero cuidar de alguém, eu não tenho como fazer isso. Eu não tenho como me doar e me dedicar a alguém agora, eu não tenho como abrir mão dos meus horários encaixados para passar no cinema no meio da semana pra te ver, eu não consigo dar conta disso porque eu tô soterrado.
Uma lâmpada queimou no quarto. Tive um clique aqui dentro.
O problema real não é que eu não consiga me doar pra alguém porque eu não vou conseguir cuidar de quem quer que seja. O problema é que eu nego o tempo todo que eu também preciso de cuidado, eu delego sempre essa função a mim, mas só porque eu não baixo a guarda. Eu quero ser o herói de todo e qualquer relacionamento, mas poxa, isso cansa. Cansa porque ninguém é o Superman – e mesmo que seja existe kriptonita aos montes por aí. Cansa porque falta um abraço, falta um ombro pra deitar a cabeça e dormir no meio do filme, falta alguém que ligue no fim do dia e pergunte se tá tudo bem. E foi ontem, só ontem, que eu percebi pela primeira vez que eu também quero ser cuidado.
A gente tem que parar de negar e começar a admitir que quer fazer parte da vida de alguém, sim, e que não tem problema nenhum nisso. Não tem problema em querer ser a parte de dentro da conchinha, não tem problema em confessar que precisa de ajuda. Isso não faz da gente mais fraco ou mais forte, isso só mostra que todo mundo é vulnerável.
E foi no escuro forçado do meu quarto que eu percebi que dessa vez eu não quero ser seu herói. Eu quero, eu preciso de alguém que me salve. Alguém que me salve hoje e na próxima é a minha vez, a gente vai trocando. Uma vez é meu peito, na outra é seu ombro. E eu prometo que paro de mentir dizendo que me falta tempo, que me falta vontade, que me falta um monte de coisa porque só me falta mesmo alguém que me desarme. Alguém que me abrace quando descobrir que eu morro de medo do escuro.
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