[Você pode ler este texto ao som de Bad Religion]
Amor não correspondido é como uma batida de carro: dois corpos em colisão e o que vai determinar a intensidade é a velocidade e a força com que eles se chocam. Um deles vai bater mais forte e o outro vai sair mais ferido. Na nossa breve visão da situação, aposto que você pensaria em culpar quem rejeita e colocar o rejeitado – ainda mais se for você – num pedestal. Mas não, não deveria ser assim.
Você deu e ele não quis. Engula o choro e pare de amaldiçoar o coitado: ele não pediu seu amor.
Você embrulhou numa caixa de presentes e mandou junto com flores e bombons à moda antiga. Ela disse que não poderia aceitar porque não sente o mesmo. Engula a raiva e pare de maldizer a guria: ela não pediu o seu amor.
Não sei se você percebe o lado deles, mas amar alguém que ama a gente pode ser um fardo ou uma dádiva.
É uma dádiva quando nasce de dentro, quando vem uma coisa bonita e arrebata a gente – porque amor correspondido é arrebatador, transformador, expõe um lado que a gente não conhecia. E pode ser um fardo quando ele é carregado sozinho e entregue pra gente como se fosse obrigação nossa aceitar. Não, não é.
Amor não correspondido é uma bosta, eu sei. Eu sempre me sentia um fracasso quando tentava, persistia, usava de todas as artimanhas e de todo o charme (que eu achava que tinha) pra tentar conquistar alguém. Não dava certo, caía fora de cabeça baixa, coração pesado e boca cheia. Reunia os amigos e contava a minha versão – é sempre a nossa versão dos fatos, nunca a verdade -, e dá-lhe encontrar motivos pra culpar o outro. Muitos sinais emitidos, muitas gentilezas trocadas, muitos convites aceitos e meu amor que é bom nada.
Meu bem, amor não é questão de mérito, nunca foi. Não importa quanto esforço você faça, não importa quão legal você seja: amor não é recompensa e nem prêmio de consolação. Você não vai encontrar amor como prêmio da Mega da Virada, nem na Tele Sena. Não vai pedir delivery num domingo à noite quando bater carência nem vai pedir num menu de algum restaurante descolado do Itaim Bibi.
Então pegue a caixa na qual você guarda esse amor todo e tenha plena consciência de que pode oferecê-la pra quem quiser. A recusa não é grosseira e é uma possibilidade recorrente. Não é falta de delicadeza, muito menos atestado de babaquice. É só alguém dizendo que não rolou, que aquela chavezinha que roda aqui dentro quando se ama, quando se quer por perto, não rodou. Não rodou por você, obrigado e volte sempre.
Antes de maldizer o mundo, os fundos e a falta de amor, pense duas vezes. Por você e por quem recusou a oferta. Um dia você é recusado, no outro recusa. O lado bom disso é que a gente não precisa fazer recall do produto (e nem encarar uma fila de espera de 40 minutos a 1 hora pra entrega, como se fosse pizza).
Se você encarar dessa forma, as chances de se sentir machucado são bem menores. Até porque o mundo não se divide em vítimas e agressores. Num acidente de carro, por exemplo, o motorista não tem culpa se você se jogar contra o carro dele numa avenida movimentada. O estrago é por conta e risco seu. Todo seu.