[Você pode ler este texto ao som de Sky Full of Stars]
Você diz ”pra sempre” e eu não acredito. Não acredito na forma nem no ditado, não acredito num amor tão bem talhado a ponto de durar pra sempre. Você diz que me quer aqui e que acabou, eu pego o casaco, você grita comigo e me faz carinho, você e eu numa montanha-russa e a gente cai no seu sofá. Tô meio zonza, meu bem. Não fica. Vou.
“Você vai conhecer um cara incrível.”
Já passou pela sua cabeça que talvez eu não queira conhecer um cara incrível? Aquele cara que eu desenhava, publicava, contava nos livros que engavetei, fazia de fumaça do baseado das quartas, aquele cara não tem nadinha a ver com você, e eu te acho incrível. Mas você é especial, um dia cê vai achar o tal cara, o cara que você procura. Não procuro e já achei, achei tanto que ele me diz pra ficar e eu vou, ele grita comigo e me dá pipoca na boca, a gente briga e mede força, eu sempre ganho. Me passa a garrafa, meu bem. Não passa. Passo.
Sempre te disse que eu esperava um esbarrão na rua ou um flerte de biblioteca. Esperei buscar um livro e achar uma carta dentro, esperei um romance do Caio me dizendo que vagou na chuva porque sabia que estava esperando. Esperei até criar teias nas minhas expectativas amorosas e ter que tomar dois sacodes e três goles pra levantar poeira. Aposentei o cavalinho na chuva mesmo, que é pra ele aprender que a vida não é feita de abrigo, conheci você.
“Mas você vai conhecer o cara dos teus sonhos.”
Você sempre com mas, mas, mas. Me deixa. Eu gosto do jeito como você acena e das suas marcas na bochecha, a barba não consegue encobrir. Eu gosto de como 2007 foi significativo e você fala dele como se tivesse nascido de novo. Eu gosto do novo álbum do Foo Fighters e das noites que eu chorei com você ouvindo aquele do Johnny Cash. Porra, amor, percebe que me dói muito quando você não enxerga, quando parece não querer ficar aqui porque um dia eu vou encontrar o cara dos meus sonhos. Dói porque é um refllexo penoso que diz que você não acredita, que me deseja essas coisas porque vai levantar quando o vinho acabar e desistir de mim. Que vai fechar a porta com cuidado pra não fazer alarde, e eu prefiro o alarde, ele deixa a gente a par do que vai acontecer.
Você me diz que ele vai ser “pra sempre” e você não acredita. Diz que vai pro Canadá aprender francês, mon amour, mas que torce pra eu encontrar um amor bem talhado que dure pra sempre. Você faz uma bola de chiclete e eu estouro. Você cozinha e eu salgo demais a comida, eu adoço demais a sobremesa, eu sou sempre demais, eu transbordo por você e antes que o vinho acabe você muda de ideia. Sorri, como sorriu da primeira vez em que eu não encontrei o cara dos meus sonhos, mas uma versão bem melhor dele. Apaga a luz e toma o vinho no gargalo, eu sinto o álcool de longe na barba e na boca. Eu sinto as mãos e os olhos semicerrados. E te digo que eu prefiro nunca conhecer o cara dos meus sonhos.