[Você pode ler o texto ao som desse cover de Riptide]
Eu queria, queria mesmo, alguém que me lembrasse uma música feliz no lugar das melancólicas que acompanham meu iPod. Queria quando entrava no ônibus e deitava a cabeça no vidro, fosse chuva ou fosse sol, pra enxergar um reflexo meio capenga, meio sozinho meu. Queria alguém assim, que sentasse do meu lado do banco e puxasse conversa, com quem eu nem me importaria de tirar os fones. Prazer, era você.
Eu queria ter tido um amor devastador que já chega em casa apagando as luzes e derrubando as coisas, que abre a braguilha da minha calça e despe o que tiver usando, que me atira na cama e vem pra cima com ferocidade. Queria um amor que me fizesse largar tudo numa quarta-feira de noite e fosse de pijama mesmo pro meio da rua. Queria alguém assim como você, que depois do calor e do suor, que depois da euforia, deitasse a cabeça no meu peito e me fizesse ouvir só a sua respiração.
Eu queria ter passado boa parte do tempo fazendo retratos, percebendo contornos, cortando paredes em fotografias pra guardar novos momentos. Queria alguém que me fizesse um álbum e contasse a nossa história, desde Madureira ao Vietnã, pra me acompanhar nos meus altos e baixos de montanha russa que mais parece o Hopi Hari. Queria alguém pra congelar o momento e me olhar fundo, sem falar nada, entregando tudo. Alguém como você.
Eu queria, queria mesmo, aquele momento em que alguém para tudo e te olha dentro dos olhos, passa o olhar pelo seu rosto e pela boca, abaixa a cabeça e sorri pra você. Queria um beijo na testa que não fosse de despedida e dedos entrelaçados mesmo quando a mão sua. Queria alguém que me chamasse pra comer pizza depois do trabalho e me recomendasse um livro novo, feito aquele da Martha, indicado por alguém feito você.
Eu queria alguém pra poder sentar lá em casa e abrir dois vinhos, tinto ou branco, você quem sabe. Pra me ensinar sobre um mundo novo, quem sabe sobre a Nouvelle Vague? Alguém pra me dizer que Woody Allen tinha razão em fazer a gente querer sonhar com a meia noite de Paris, mesmo sem saber se eu sou Vicky ou Cristina no filme. Alguém pra tirar o esmalte e passar as unhas nas costas, sentar no meu colo e aceitar o abraço. Alguém que apagasse as luzes e deitasse comigo. Alguém que dormisse comigo, assim como você.