Eu ainda não achei o que tenho procurado


[Você pode ler este texto ao som de I Still Haven’t Found What I’m Looking For]

Viver de ponte aérea traz novas perspectivas do que é partida e do que é chegada. Há alguns meses moro em São Paulo e chegar ao Rio é sempre uma sensação diferente. Antes casa, agora visita. Esse deslocamento de lugares e pessoas me fez ver que o eixo, claro e centrado, sou eu. E que os motivos que me fizeram mudar de cidade talvez tenham sido outros além dos habituais que já contei por aí. Nessa semana, por exemplo, tive uma faringite absurda e fui questionado pela enfermeira sobre a troca da praia pelo concreto. Disse que era por trabalho. Mas não é. Nunca é só por isso. A gente muda porque algo dentro chama por isso.

Vazio é algo normal quando se busca algo, mas eu sinto uma espécie de aflição e angústia quando deixo os aeroportos, seja o Santos Dumont ou Congonhas, que tento explicar como ânsia. Sou ansioso, sempre fui. Ansiedade era o primeiro dos problemas que meus endocrinologistas e nutricionistas percebiam. Desconta no doce, certo? Desconto. A balança também sente sempre.

Paro pra pensar sobre a busca. Acho que todo mundo busca por alguma coisa e a gente espera que seja a resposta da agonia que bate às 6h da manhã quando nós estamos indo pro trabalho ou que complemente aquele olhar meio vago do almoço de domingo. E de um tempo pra cá eu tenho me colocado sob a perspectiva da gratidão pelas coisas que o destino tem trazido, pelas mudanças enormes e pelo crescimento espiritual que nem pareço eu. Eu que só reclamo, que só procrastino, que finjo que não dá tempo, logo eu ando agradecendo mais do que reclamando. Não sou religioso, nem um pouco, mas se fosse diria que atingi um novo nível de ligação com Deus ou ascendi em níveis espirituais, saca? Agradeço, mas continuo sentindo a falta.

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Pensei em morar em Nova York, mas não dá. Por grana e por planos. Tenho que ficar no Brasil por alguns anos. Pensei em me mudar pro Sul, mas e se o frio me congelar de vez? Espero mais um pouco, São Paulo tem me feito bem. Tem me deixado um pouco mais ágil e um pouco mais duro. Também ganhei rugas e a minha pele tá péssima, cara, se te contasse como a gente envelhece em poucos meses, você acreditaria que são as experiências e não os anos que contam. A mudança também me fez grudar mais na minha família e eu sinto que o apego dessa vez é mais forte, porque distâncias evidenciam laços que a gente precisa.

O meu maior incômodo como jovem estressado, afobado e ansioso é no amor. Vivo às turras com o meu lado racional dizendo que não dá agora, que não é tempo, que não é hora de dar um esbarrão na rua e escolher ficar. Tenho me decepcionado tanto – não com alguém, mas com o destino e com o acaso -, porque achava que mudar de ares me traria pessoas novas, gente pra mudar meu tipo de vida e sair dos meus romances cariocas que falharam. Fuén. Os romances paulistanos também não deram em nada, aliás, mal saíram da concepção de romances imaginários. E a minha ânsia irracional de passar meus finais de semana jogado numa rede, abraçado e com um labrador aos pés se afasta da realidade cada vez mais. Tá, não é pra tanto, é engraçado, confesso. E seria mais ainda se não martelasse, se eu não fizesse planos pra mudar daqui a um tempo ou visitar um lugar diferente em busca de novos encontros e de respostas.

Eu ainda não sei o que eu quero fazer da vida, nem sei quem eu quero encontrar por aí. Se soubesse, as coisas poderiam ser um pouco mais comedidas – e eu também. Libriano que sou, vivo observando e torcendo pra achar algo que complemente um pouco essa angústia. Pode ser carência provocada pela passagem súbita pelo Rio e um abraço resolve, mais cedo ou mais tarde. Ou pode ser a extensão da pergunta que eu tenho me feito. Continuo sem respostas mas, hoje, nesse saguão de aeroporto vazio, percebo que não adianta fugir quando o problema tá aqui dentro. Nem Rio, nem São Paulo, nem o outro extremo do mundo resolveriam. Eu ainda não encontrei o que tenho procurado. Só isso.

bovonew1

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