[Você deveria ouvir esse texto ao som de Landfill]
Eu queria não precisar te pedir pra me amar, não precisar emitir nenhum ganido agudo da noite de domingo pra segunda sabendo que você não vai ouvir. Queria ter um zíper dos pés à cabeça pra mostrar como as coisas funcionam aqui dentro, pra ver se você entende um pouco sobre como eu me sinto. Faz quanto tempo que você foi embora, um mês ou dois, por aí. Então por que você não vai embora de mim também?
Pensei que fosse fácil guardar isso num baú. Foi paixão de primavera, meu doce setembro, como escrevi em outro texto. Foi uma coisa sem começo e sem final, despretensiosa, como um filme da Sofia Coppola. Poderia ser Somewhere, mas até no filme a Elle Faning ajuda Stephen Dorff a se achar. Me sinto como naquela cena inicial, sabe? Com o carro dando voltas e mais voltas sem sair do mesmo lugar. Só pra me cansar, gerar algum desgaste, pra ver se dá a hora de ir pra casa e não querer mais brincar de você.
Não é tão fácil assim esquecer um amor imaginário. Um amor que tinha tudo pra acontecer, mas você não quis. Se não queria, por que me manteve ali e me fez acreditar que sim, que a gente teria a cena de beijo e despedida no aeroporto, que eu ia passar minhas férias com você, que eu me sentiria um menino correndo na praia de Ipanema no momento exato do pôr-do-sol? Você não fez, foi culpa minha, fui eu que coloquei tudo isso aqui dentro e não consigo mais tirar. Mas olha, você bem que podia. É que. Esquece.
Eu te quero pra caramba. Como eu nunca disse pra alguém que queria. Te quero com sotaque, com selfie no espelho, com essa mania chata de achar que todo mundo é bobo e só você entende das coisas. Te quero, mas machuca muito te pedir amor. Principalmente quando percebo que talvez você não o tenha pra dar. Não pra mim, no caso.
Eu não quero pedir pra ninguém me amar. Por isso mesmo é que não te peço. Te deixo ir morrendo feito o Joel, sou Clementine. Escolhi te apagar, mas não tem método. É tempo e choro, gente e choro, tristeza e choro, até que fique alguma coisa, mas o choro seque. Quando secar, eu te digo que eu tento de novo – não com você. Tento e espero mais amor, mas sem favor algum. Sem pedido e sem vertigem dessa vez.