Por que não eu?


[Você pode ler este texto ao som de Who’s Gonna Save My Soul?]

Por mais evoluído que eu tente ser, rejeição ainda me machuca muito. Não tenho distinção quando se trata do assunto: me sinto ferido do amor platônico que nunca soube que existia algo ao telefone desligado na minha cara num sábado à noite. Faz com que eu me sinta mal comigo mesmo e admito que tem a ver com o tal problema amoroso, mas com o fato de atingir diretamente meu ego. Touché! É como se espetassem minha autoestima e jogassem lá pra baixo pra eu ficar cantando Leoni no sofá. Por que não eu?

Parei pra pensar um pouco em como ser rejeitado me afetava. Sabe quando você se sente um lixo esquecido na lixeira de um apartamento quando os donos viajam? A sensação é essa, de desamparado e dor, de pouco valor. Você começa a se achar feio, a culpar sua aparência, a questionar seu nível de intelectualidade e até quão interessante você é. O mais incrível é que talvez você nem quisesse tanto a pessoa assim, mas isso te abala.

Noutra semana dessas saí com alguém que queria muito conhecer. Papo bacana, estendemos, sexo incompatível e fim de papo. Nem uma palavra sequer depois do ocorrido. Nem um “não gostei de você, mas podemos ser amigos”, afinal de contas o assunto fluía e a gente conseguia falar sobre uma infinidade de mundos em um minuto. Mas por que eu me importava tanto assim se eu mesmo senti que não era quem eu queria? Por conta do descaso. E eu tenho ânsia de desfechos, aprendi que as reticências dão muita agonia já que nenhum dos três pontinhos encerra coisa alguma.

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Pensando nos amores que tive, alguns até me deram bons desfechos. Mas não colava aquela ideia de que simplesmente não combinávamos. Não, quando a gente toma um pé na bunda, a gente quer realmente sentir o pé na bunda e saber a marca do sapato. Acho que é uma maneira que encontramos de justificar, pra fazer com que nos sintamos melhores conosco. Um tipo de “aquilo não tem a ver com o fato de eu gostar de séries e ser sedentário, é por conta de outra coisa”. Só que tem muita coisa que não tem justificativa e não oferece desfecho. Não bateu o santo, a pegada não agradou, o beijo enrolou. E talvez a gente sinta isso e nem queira muito, talvez nós mesmos colocássemos um ponto final na história mais tarde, mas a rejeição bota lenha na fogueira e faz a gente cismar de pés juntos que queria a tal pessoa.

Já me senti horrível porque preferiram algum amigo ou conhecido a mim. Já fiquei mal por dias por me achar um mala já que aquela resposta no celular nunca chegou. Cansei de tentar culpar algo em mim até entender que pessoas vêm e vão naturalmente e que sentimento ou empatia não acontecem por mérito nosso, mas são sentimentos que florescem. A nós cabe a missão de sermos nós mesmos, de alimentarmos nossas paixões ao nosso jeito e torcer pra que a pessoa se identifique, goste e fique. Também tenho tentado trabalhar melhor a mensagem de que não dependia de mim, de que fiz o máximo que podia e que não há nada que eu possa mudar pra conquistar alguém.

Elimino a culpa dos amores que eu não queria que acontecessem, convivo com o incômodo dos que não quiseram acontecer comigo. E é um trabalho árduo isso, confesso. No fim, por mais que eu tente, eu sempre acabo voltando à canção do Leoni e me oferecendo. A diferença é que a oferta é imaginária, e se dissipa bem mais rápido. Não atravessa a noite. Se não tem nada pra depois, também não vai ser eu.

Se você gostou do texto, talvez goste também do vlog que eu fiz sobre o assunto. Olha só!

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