Naquele dia eu não ia sair de casa


Tem um filme do John Cusack que se chama “Serendipity”. Eu nunca tinha ouvido essa palavra até ver o filme e gostei tanto que tive vontade de ir atrás do que ela significava. O que o dicionário me disse lembrou a nossa história.

Naquele dia eu não ia sair de casa. Já tinha tirado os DVDs da estante e ia fazer uma maratona Tarantino pra finalmente provar pro meu pai que “Jackie Brown” é melhor que “Cães de Aluguel”. Foi quando o telefone tocou, um convite para o cinema com umas amigas e mais “uma garota que eu não conhecia” não seria suficiente para me tirar de casa se eu fosse o tipo de cara que sabe dizer não. Ainda bem que não sou.

Tirei meu pijama à contra gosto e vesti a primeira roupa que tirei do armário, e aqui eu quer deixar claro que se eu soubesse iria conhecer você naquele dia me apresentado melhor. Recebi uma mensagem de texto dizendo para encontrar vocês no restaurante australiano do shopping. Não tive dificuldades para encontrar a mesa, tive dificuldade para tirar os olhos de você.

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Era verão, apesar de eu não saber qual é a estação do mês de abril, é sempre verão no Rio de Janeiro. Você estava coradinha de sol e, mesmo de calça jeans e camiseta cinza bem simples conseguia me fazer tropeçar nas minhas próprias sílabas. Você percebeu e fez piada do meu nervosismo, na verdade você faz até hoje. Quando pedimos a conta você abriu a carteira e deixou cair sua identidade. É covardia você sair bem até em foto 3×4, sabia?

Cortei uma sílaba do seu nome para forçar uma intimidade e ver se ficava menos nervoso. Até hoje eu te chamo por esse apelido e, confesso que é muito difícil usar seu nome todo agora. Não sei, nem quero mais parecer distante de você.

Até hoje também agradeço por ter feito a escolha certa naquele dia. Não sou de acertar muito, sabe? Naquele sábado quente de abril eu tive uma chance, uma chance de fazer realmente valer à pena levantar da cama todo dia. Conhecer você foi como encontrar o prêmio mais valioso de uma competição que eu nem sabia que estava participando.

Numa tradução aproximada, vi que “serendipidade” é como chamamos as descobertas felizes que fazemos, aparentemente, por sorte ou acaso. No meu caso, você.

doug

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