Dê o play e escute o texto sendo interpretado pela Olivia Dias.
(Por Daniel Bovolento)
Se você quiser eu paro o que eu tô fazendo agora e dou um pulo aí na tua casa. Mentira, você tá muito longe, nem se quisesse eu conseguiria chegar a tempo por aí. Mas eu te ligo ou abro o Skype aqui rapidinho pra te ver o mais rápido possível, quando der, assim que você se desocupar, só pra dizer que eu te quero bem pra caramba, de verdade.
Esses dias me bateu um medo gigante de nunca mais ter a chance de dizer como eu te quero bem, porque no dia a dia a gente esquece, a gente só lembra das ofensas, do estresse, do lado ruim que ofende e fere quem a gente ama, mas uma hora a gente lembra, uma hora da manhã ou duas da tarde, mas lembra. E hoje eu me lembrei de você com todas as vogais e consoantes que formam o teu nome, com todos os traços tortos e mal desenhados da tua personalidade, com tudo aquilo que eu nego aqui dentro e que me atrai. Porque nem eu nem Deus saberíamos explicar o que é que me acontece por causa de você, e me desculpa o erro, mas não consigo ser formal contigo.
Bateu uma coisa que eu não sei se é febre ou fome, mas é voraz, tá me devorando por dentro, deve ser amor e saudade, uma espécie de dor de estômago que não se preenche, sabe? Você costumava dizer que sabia, então pensei que pudesse me entender. Ontem eu contei pro meu diário que você foi o cara mais incrível que eu já conheci na minha vida. Fiquei pensando se era verdade ou se era só pra formar poesia, mas é sim. É tão incrível que por dentro de mim tudo sorri, tudo só ri e continua assim por dias e dias quando me embaraço em você. Mas faz tempo que eu ando triste, com uma dor no peito esquerdo e no direito – porque ela se espalha e passa pro corpo todo, ela não se contenta com um pedacinho só. Ela não para, ocupa todo o espaço possível em mim, tudo em mim dói quando não é você. Eu ando desorientada e fico pensando se essa distância toda, se essa falta de tempo e esse afastamento necessário, se ele é tão necessário assim mesmo.
Desculpa, eu ando um pouco nervosa e isso escorre pelas palavras. Você nem imagina como eu falo hoje em dia, eu ando meio confusa, numa mistura estranha que me faz equilibrar as sílabas do teu nome na ponta dos lábios. É saudade.
Na última vez eu te disse que era melhor fugir de mim. Era melhor pra você porque eu me conheço. Eu acabo parecendo uma menina daquelas que sorriem pra tudo, que fazem tudo de bom grado, que não têm chefe que tire do eixo ou trânsito que abale a calma de um coração em paz, eu pareço uma dessas mulheres que se encontraram na vida sem GPS ou Google Maps. Eu ponho uma música do The Police ou dos Beatles e, cacete, como isso faz sentido. Recito a letra e percebo que poderia inserir você no meio de todas as histórias que eu desenho durante a melodia. Eu tenho um medo danado disso porque eu nunca me vi feliz assim, feliz a ponto de ser vulnerável. Pode até não parecer, mas eu sou medrosa, ainda mais com a possibilidade de sofrer. Eu sou sempre a pessoa que cai fora antes da chuva cair, entende? E dessa vez eu fiquei. E você fugiu.
Eu nunca disse isso pra ninguém, mas se você quiser, volta. Eu não tava brincando, eu posso não ser melhor pessoa do mundo pra um monte de gente, mas eu posso ser a melhor pra você. Eu deixo a tal menina confusa e aprendo a crescer. Porque eu já tô cansada de me referir a você como ele, reportando pros outros um discurso distante de alguém que tá, mas não tá aqui. Foge de mim ao contrário e volta, eu te busco no aeroporto, na rodoviária e, se você quiser, a gente ainda pode ser muito feliz.
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