Por um amor que transborde


[Você pode ler este texto ao som de No Ordinary Love]

Domingo passado eu saí de um apartamento na Faria Lima às 10h da manhã. Caminhei um pouco pra pegar o ônibus, o pescoço doendo da manhã mal dormida. Tinha chegado às 5h, meio alcoolizado, depois de duas ligações e um “passa aqui”. A cena se desenrolou sem nenhuma cerimônia: roupa no chão, camisinha, sexo, dorme um pouco, tá bem, virei pro lado, acordei com ressaca e tratei de correr pra casa. E a culpa desse sentimento vazio é de quem? Talvez seja minha.

Não é a primeira vez que isso acontece. Esse sentimento de culpa pós-sexo fácil com alguém que eu mal conhecia ou conhecia bem pouco. Atração física se justifica, ok. Não vou ser hipócrita em dizer que nunca tive boas experiências assim. Umas se transformaram em cafés, outras em cinemas, umas poucas em jantares lá em casa ou meses de companhia. E qual é o problema nisso tudo, Daniel? O problema é que o vazio persiste. Eu e meus amigos estamos nessa: não é difícil arranjar sexo, não é difícil arranjar alguém que nos ature por 24h, é bem simples, na verdade. Pra mim, pros meus amigos e amigas, imagino que pra você também seja. Me dizem que eu deveria ser otimista e enxergar o copo meio cheio e não da forma como vejo. Mas eu não quero isso.

Não quero deixar um legado de portarias visitadas e almoços de domingo solitários. Não quero tentar tapar buraco, esse vazio afetivo aqui dentro, com gente bacana (ou babaca) só pra me sentir bem por algumas horas. Não quero depositar o amor num baú e mantê-lo guardado por falta de espaço pra florescer aqui fora. Me disseram que eu reclamo demais e que a culpa é minha. Não nego, e por isso desabafo. Tô colocando pra fora essas coisas todas porque, sim, é muito fácil arranjar companhia, difícil mesmo é mergulhar em alguém.

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Como a gente mensura um relacionamento que vale a pena quando continuamos insistindo nos mesmos buracos vazios só pra não nos sentirmos sozinhos? Acho que é isso que tenho tentado fazer. A busca por companhia é tão grande e tão forte, abre tanto um buraco grande aqui dentro, que a gente se desespera e tenta tapar o sol com peneira. Daí vem um e não resolve, a gente tenta outro. Dez. Vinte. Trinta pessoas. Mas as pessoas não são argamassa. E nenhuma delas vai preencher o buraco só porque a gente quer, na hora que a gente precisa, do jeito que a gente espera que seja. Nada é tão fácil assim, muito menos amor. Mas eu não quero desistir.

Eu quero algo que vá além de um encontro casual ou uma paixão ordinária que não subiu a serra, não dobrou a esquina, não bateu na minha porta. Quero um amor que me ensine a amar com calma, bem devagarinho, que tenha paciência com as coisas erradas e os erros que vou cometer pelo caminho. Quero algo que me faça olhar pra dentro e revirar umas partes que eu mantinha escondidas, que eu tinha medo de mostrar ou encostar porque doía – e vai doer, mas vai fazer bem. Quero um amor desses que façam a gente correr no parque às 8h da manhã e ligar pro melhor amigo pra contar sobre o sorriso, o sexo, o cafuné, o tempo espreguiçado na cama com as luzes apagadas. Um amor de conchinha (por mais que eu odeie dormir agarrado). Um amor pra ação ou comédia romântica, você quem escolhe, meu bem.

Quero um amor, por mais que às vezes pareça que não quero, por mais que me esconda por trás de um discurso tão vazio quanto aquele que eu sinto. Quero um amor amado que não seja otimista nem pessimista, desses que falam do copo meio cheio ou meio vazio. Que se danem as metades incompletas! Eu quero mesmo é um amor que transborde.

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