Entrei no Twitter mais cedo pra reclamar do despertador que não tocou e do ônibus que nunca chegava. Enquanto esperava no ponto de ônibus, me preparando pro esporro que iria tomar do chefe, desci a timeline pra ver os tweets da galerinha que apronta altas confusões e zueira na internet. Dei de cara com a indicação de um texto de um amigo meu, com a chamada de que era um texto dolorido. A curiosidade foi maior do que o desconforto de ler no smartphone e lá fui eu. O texto falava, basicamente, sobre como tem babaca no mundo e os caras legais são poucos, e como as mulheres (ou homens) são azarados em escolher ou encontrar só um tipo deles.
Bateu preguiça do texto. Pura balela. Essa é a hora em que você dá play no vídeo abaixo.
Eu já passei por um bocado nessa vida. Já separei muito as pessoas e já tomei muita cerveja reclamando de como as pessoas eram filhas da puta – e as putas nunca tiveram culpa nisso tudo. Já maldisse meu destino inevitável de conhecer gente bacana e acabar gostando de quem mal ligava pra mim, de quem nem sentia falta. Quem nunca fez isso que atire a primeira pedra, é a primeira coisa que a gente faz, vitimizar um pouco o destino pra tentar prover conforto pro desalento pelo qual estamos passando. O problema é que isso faz a gente polarizar as pessoas em dois extremos distantes, com a ideia de que um nunca vai ser o outro.
Dando uma boa olhada no meu filme preferido – 500 Dias Com Ela – percebi que muita gente fazia o coro de “Tom bonzinho, Summer vadia”, até porque a história é contada na visão do mocinho que se ferra e perde a garota amada só porque ela não queria ficar com ele. E sempre me perguntavam “ah, mas você é Tom ou Summer?”. Eu sou os dois, e as pessoas que você encontra por aí também são. Ninguém é um tipo só de pessoa, ninguém é legal 24h por dia, ninguém é indeciso 7 dias por semana. O que acontece é que cada pessoa projeta as qualidades, as vontades e os sentimentos dela por você de acordo com o que efetivamente sente.
Você vai encontrar caras que foram completos imbecis com a ex, mas que podem ser uns amores contigo. O contrário também. A pessoa vai projetar sobre você o que sente, depende da química, depende do que você desperta e isso pode ser temporário ou duradouro. Ele pode se encantar pelo teu papo e, num belo dia, perceber que o encanto passou. Partir não faz dele a pior pessoa do mundo, faz dele humano, por mais babaca que pareça. Se você for uma boa companhia, uma guria legal pra caramba que adora quadrinhos, ou um cara sensível que toca violão e tira uns sorrisos da cara dela, isso quer dizer absolutamente nada. Você não é melhor ou pior por ter essa aura de mocinho de filme de Hollywood e nem merece um amor louco e encantado de filme por ser assim. E nem o outro merece queimar no mármore da solidão só porque não foi o melhor amor da sua vida. As pessoas não são um filme, você não vai encontrar Toms e Summers.
Eu comecei a pensar mais claramente sobre isso tudo quando olhei pra minha vida. Eu já fui um completo idiota com alguém, mesmo que não quisesse. Você também deve ter sido. Mas a gente só olha pro que o outro nos causa e segue pensando que tem um belo dedo podre de escolher pra nossa vida só quem “não presta”. Se a gente escolheu, se a pessoa serviu, mesmo que por um breve período de tempo, ela prestou. Prestou pra gente e pro nosso amor, prestou pra alguma necessidade afetiva nossa. Ela pode não ter suprido tudo o que a gente queria, mas essa já é outra história.