[Você pode ler este texto ao som de Balada da Contramão]
Quando eu era mais novo costumava achar que todo início de relacionamento, aquela parte do encontro e descoberta, era um jogo cheio de artimanhas no qual ganharia o melhor jogador. Além de toda a coisa de precisar chamar atenção e estar disponível, a gente precisava ser um bom jogador pra ganhar a outra pessoa, senão era perda. O jogo era basicamente conseguir manter o potencial romântico interessado o bastante para ganhá-lo, mas muita gente parecia nunca sair dessa fase.
Amy Winehouse já dizia que “o amor é um jogo de perdas” e eu passei um bom tempo achando o mesmo até que um pouco de experiência em relacionamentos passados me fez mudar de ideia. Se antes a probabilidade de medir o que diria, de articular as investidas, de segurar o papo no telefone por tempo limitado pra não gastar o papo, de mentir que não poderia sair só pra não me mostrar muito disponível e outras tantas táticas de jogo eram presentes, hoje esse papo me cansa à beça. Me cansa pensar que eu preciso entrar num jogo articulado só para sair com alguém e conhecer a pessoa. Bate uma preguiça – daquelas de tarde de domingo – de gente que não é clara, que não fiz o que pensa e o que sente só para ganhar você ou se deixar ser conquistado.
Existem algumas categorias clássicas de jogadores, mas o tipo que mais me cansa é o jogador-vampiro. É o típico player que está ali, se diz interessado e nunca avança ou te deixa avançar. É o tipo de pessoa que dá todos os sinais – mais claros que os dentes do Ross pós-clareamento – e mesmo assim recua. Esse jogador fica ao seu lado o tempo todo e dá corda, se alimenta da sua companhia, do seu ombro amigo (talvez até de outra-coisa-amiga), insinua e pinta um cenário romântico pra depois fingir que houve nada. Enquanto alguns chamam isso de charme, eu chamo de desgaste. O mundo já anda complicado o bastante pra gente complicar as coisas que deveriam ser boas, bonitas e prazerosas. E também pra darmos corda pra quem que não se situa e não se desenrola. Viver de amor-carretel com jogador-vampiro, sempre enrolado enquanto suga a nossa parte boa, não dá.
Meu Deus, se o ser humano não quer nada conosco, por que fazer parecer e agir como se quisesse? E se quer, why don’t you say so? Eu já parei pra pensar que muita gente tem dificuldade em ser clara, em dizer o que quer – e mais ainda em dizer o que não quer quando se trata de relacionamentos -, mas nesses casos saber se expressar é uma dádiva e uma prova de maturidade. A diferença (sutil) entre ser legal e dar mole só é bacaninha quando a gente ainda não entendeu que não há tempo a perder, que isso desgasta a relação e que não causa interesse, mas sim preguiça. E é por essa falta de capacidade de expressão da maioria das pessoas que os desencontros acontecem.
Na minha finita e auto-baseada concepção de amor não há espaço para jogos. Se empregamos mais esforço em fingir ser o que a gente não é do que deixar que o outro nos descubra, como é que a coisa pode valer a pena? Não deveria ser cena ensaiada com script planejado, deveria ser nu e cru, natural, sentimentalmente real. E é por isso que eu tenho me afastado de jogadores, de vampiros, de gente mal esclarecida que é viciada em conquista e só quer ficar ali. Não só isso também, mas procuro seguir um conselho que me dei de não ser leviano com o coração dos outros. Tem muita gente por aí só tentando encontrar alguém bacana com quem dividir suas histórias. Porque eu tenho a certeza de que, se o amor fosse mesmo um jogo, a primeira regra seria deixar os peões de lado e não se prender ao caminho desenhado no tabuleiro.