Homens e mulheres parecem conviver em dois extremos quando o assunto é azaração, pegação, relacionamento, amor e blá, blá, blá. Tanto é que o papo no whatsapp é sempre um pouquinho diferente quando eu paro pra ver qual é a picuinha do dia. Domingo passado uma amiga contou que tinha conhecido o homem da vida dela no Tinder – até aí, tudo normal, a figura é dessas que se apaixona e se frustra em 7 dias corridos, nem precisa ser útil. Falou, falou, falou e repetiu a mesma ladainha de sempre: conheceu o cara, saiu com ele, pegou, se encantou, ele não retornou mais. “Homem gosta mesmo é de mulher que não pode ter, né? O segredo da coisa é não estar disponível”. Acreditem, por incrível que pareça, essa frase é mais repetida do que o pedido da cor do esmalte da Giovanna Antonelli na novela das 8 na Central da Globo.
Estar disponível é um karma. Veja bem, hoje em dia todo mundo tem muito pra fazer, encontros são marcados e remarcados umas 5 vezes antes de acontecerem de verdade, os finais de semana da outra pessoa são cada vez mais concorridos, o Netflix no sábado à noite costuma ser uma ótima opção pra preencher o tempo, tirando que a galera tem sempre que se dividir entre família, amigos, trabalho, academia, esportes, seja lá o que for. Bate até uma saudade do esquema escola-cinema-clube-e-televisão do Eduardo. Todo mundo é ocupado, estar disponível é quase uma dádiva pra quem recebe atenção.
Um exemplo disso é o da tal amiga. O cara foi legal com ela, deu tudo certo, ela mandou mensagem no dia seguinte e nada. Mais uma no outro dia e nada. Eu diria que foi morte súbita, nem precisava ter respondido, 24 horas sem resposta e o last seen do whatsapp não deixava mentir o veredito: ignorada. E ela botava a culpa no fato de estar disponível. Eu já acho que teria dado no mesmo até se ela tivesse ignorado o rapaz.
Parece que essa premissa sempre foi uma constante e a gente repete mais do que provérbio chinês em dia de feira. As pessoas querem ter aquilo que não podem ter. Ora bolas, por que a gente seria ignorante pra agir assim? As pessoas querem ter aquilo que elas querem ter. Ponto final. O que acontece é que elas querem ter muitas coisas, em diversos momentos da vida e agem de acordo com o feedback dos outros associando o que querem ao que sentem pela pessoa em questão.
Por que eu disse que era um karma? Porque a gente acha que toda rejeição pode vir do fato de estarmos disponíveis. Sair numa terça de noite? Claro, bora. Pegar um cineminha no primeiro horário da tarde de domingo? Vamos! Vão dizer que tá fácil demais, que tá rendendo demais, que tá livre demais e obviamente ele não vai dar bola porque sabe que vai poder ter a qualquer hora e tal. Na verdade, o problema reside no desinteresse do outro. Se ele tivesse se interessado, basicamente adoraria o fato dela estar disponível. Adoraria o fato de poder vê-la, sair com ela no final de semana, curtir alguma coisa por aí. E odiaria a agenda lotada com um monte de programa fantasma que um bando de gente inventa só pra cozinhar a atenção, manter o interesse, sabe como é, né? Aviso logo: esse interesse cozinhado logo vai morrer, vai adiantar nada ter adiado em duas semanas o inevitável. Se o santo não bater, se a atração não for forte, nada vai fazer com que o fatidício encontro não resulte num fiasco futuro. O que mantém relação não é disponibilidade ou falta dela, é o interesse ou a falta dele.
Então, por mais que pareça certa a fórmula de fingir falta de tempo em função de manter o outro ali, eu acho que não vale a pena. Pra quê investir em alguém com quem você precisa criar joguinhos, planejar ações, organizar posts em horários diferentes e tudo mais? Relacionamento por si já é complicado, imagina encarar neurose de conquista calculada?! Nah, não vale a pena. Eu particularmente acho que não tem nada mais broxante do que falta de atenção. E diria que continuar disponível é o ideal, se for o seu jeito. Sem culpa, sem karma. Uma hora as agendas batem e você vai entender que uma conversa em tempo real com alguém que tope sair e se envolver direito são muito mais prazerosos do que a loucura de uma conquista programada. Um dia desses a minha amiga vai acabar percebendo isso também.