Pra onde você quer que eu vá?


[Você pode ler este texto ao som de Eu Te Amo]

Desculpa. Não estou te entendendo. Depois de tanta vida, como quer que eu parta? A gente já perdeu a noção da hora e foram tantas vezes. Você não consegue perceber a beleza disso? Somos nós dois. Como eu posso ir embora?

Desses tempos pra cá, comecei a sonhar mais e você acabou esbarrando e se entrelaçando em todos os sonhos novos. Por que não dizer que os causa? Eu voo alto e você vai junto. Eu com os seus, você com os meus que se fundem e assim vamos mais longe. Juntos. Vê isso, moça! Por você pôs minha sanidade à prova. De todos os meus delírios você foi o ápice da febre.

Meu amor, eu já rompi com o mundo. Pra onde você quer que eu vá?

Nesses nossos devaneios, fizemos das noites a eternidade. Meu corpo se confunde com o seu e até nisso nos tornamos um. Nessas noites e laços, minhas pernas já se confundiram com as tuas. Como quer que eu caminhe pra longe? Não dá. A não ser que as minhas outras pernas – as tuas – me acompanhem.

Olha o que você tá dizendo. Veja o que está fazendo. Eu ouço tuas frases e não vejo sentido algum. Não jogue nossa sorte ao chão. Cuida dela e de mim também. É nessa bagunça do teu coração que me confundo inteiro. E nela meu sangue, já viciado em ti, se perde das veias e busca pulsar com ele.

Outro dia, na bagunça do meu armário, vi que meu paletó abraçava o vestido vermelho que te cai tão bem. O vento da janela os fazia parecer dançar. O som no quarto era a nossa música imaginária. Tenho certeza. Meus sapatos, que insistem em pisar teus pés, ainda estão lá desde aquela festa. Te prometo ainda aprender a dançar.

Eu não entendo como quer que eu vá.

Com que cara você quer que eu parta?

Acho que deve estar fazendo graça de mim.

Meus olhos eu também te dei pra tomar conta. Pra ver meu mundo da sua forma. Junto a eles e a tudo que te dei, eu decido ficar. E vou.

Vou de volta pra ti, ignorando tudo o que me diz enquanto parto em tua direção.

CLARICE

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