Eu sei que o assunto é batido e que existe muita besteira e blá, blá, blá sendo falados por aí sobre a geração a qual pertenço. Somos preguiçosos, acreditamos que somos especiais, acreditamos na felicidade e somos julgados o tempo todo por isso. De um lado, meus pais reclamam que tiveram vidas completamente diferentes da minha: não existia isso de felicidade ou satisfação pessoal. O que existia era a necessidade de se ter um emprego convencional, seguro, que desse dinheiro pra bancar a família até o fim do mês e viver com alguns pequenos luxos aqui e acolá. Meus pais costumam dizer que a minha geração é formada por mimados, egocêntricos e sonhadores. Mal sabem eles que foram eles mesmos que criaram esses “monstros”.
Levando um pouco a impressão dos meus pais pra frente, eu sempre pensei em seguir de forma diferente os dois caminhos impostos – o dos meus pais ou o da minha geração – e tentava sempre conciliar meus sonhos e desejos de realização com alguma bagagem profissional e emocional que me levasse até lá. Planejei tudo. Do Ensino Fundamental ao fim da faculdade tudo parecia muito claro pra mim e aquela crise dos 20 e poucos anos me parecia balela das grandes de gente que não sabia o que fazer da vida e não botava a mão na massa.
Ensino Médio acabou, passei no Vestibular, cheguei aos dias dourados de glória universitária. Festas, estudos, teóricos, filósofos, bora pensar, escrever muito, argumentar, racionalizar, botar em prática, lidar com frustrações, primeiro estágio, carga horária intensa, isso aqui tá um inferno, acho que vou desistir, mas vamos lá, tá acabando, pronto. Terminei a faculdade nos 4 anos previstos, com boas notas e alguns destaques acadêmicos – como me formar com honra por uma universidade federal (o que é o mesmo que nada pro mundo real). A conclusão da faculdade chegou junto com meus 21 anos e com o fim da trilha que eu tinha planejado até hoje. Peguei meu diploma e botei o pé na rua graduado. O mundo desabou na mesma hora.
Nah, o problema não era lidar com aquela coisa de ser adulto. Nem abrir mão de ficar bêbado quando bem entendesse, de dar desculpas pelos atrasos, de fazer os trabalhos na véspera, de ser irresponsável ou coisa do tipo. Muito menos era olhar pro currículo e sentir que tinha feito nada na vida que pudesse me dar um caminho pela frente pra seguir. Por sorte, ou talvez por planejamento, eu tinha feito umas boas escolhas na vida. Mas a sensação de que estava perdido no mundo persistia. E bateu a tal crise dos 20 e poucos anos.
Meus amigos estão felizes em empregos convencionais, alguns estão casando, com outros eu mal falo e só sei da vida porque existem as redes sociais. A faculdade acabou há poucos meses e já me parece um mundo distante da realidade que eu enfrento hoje. Não consegui tirar carteira de motorista, então enfrento alguns ônibus lotados pra chegar ao trabalho antes das 10 da manhã. Dormir tarde tem consequências arrasadoras no dia seguinte, assim como beber um pouco mais em dia de semana. Final de semana foi feito definitivamente pra dormir e eu quero matar a pessoa que sempre vira pra mim e diz “quem tem 20 e poucos não precisa dormir”. Meu trabalho consome mais de 8 horas do meu dia e percebi que sonhos só seguem com a gente se eles se tornarem projetos. E projetos requerem horas de trabalho, disposição, uma boa conexão de internet (o que não é o meu caso) e muito estudo. Tempo parece um bem cada vez mais valioso e mais escasso na sua vida. E eu me pego pensando qual caminho eu devo seguir daqui pra frente, já que a nossa geração foi abençoada com a dávida das possibilidades.
Percebi que depois dos 20 anos é ainda mais difícil ter que fazer escolhas quando se tem muitas variáveis. Tem conta pra pagar, mas será que vale a pena ser infeliz em uma carreira que não te faz sorrir no fim do dia? Eu uso as roupas que quero, como bem e faço lá minhas pequenas viagens, mas será que o cartão de crédito vale mais do que fazer aquela coisa foda que ajuda milhares de pessoas e me faz realmente me “sentir especial” como a minha geração se sente? A principal mudança sentida depois dos meus 20 anos foi ter o poder sobre a minha vida. E todo grande poder chega com grandes responsabilidades, já dizia o Tio Ben.
Nessa jogada confusa que me assombra a cada manhã, percebo que nada pode ser mais assustador do que cruzar a linha dos 20 e poucos anos. Não é uma idade qualquer, não é um tempo exato, mas uma representação de um momento em que tudo na vida muda. O primeiro grande momento de mudanças bruscas. Lembra quando você tava aprendendo a andar de bicicleta de rodinhas? Essa é aquela hora que tiram as rodinhas, o pai deixa de segurar a bicicleta e te jogam numa BR-cento-e-tantos da vida. É um pouco assustador e a gente fica perdido mesmo. Por isso, talvez, nossos pais tenham impressões tão fortes (e um pouco equivocadas) sobre o nosso comportamento.
Sobre esse desabafo improvisado, eu concluo três coisas:
1. Sinto muito, eu não tenho as respostas. Não posso falar que você deve largar tudo pra ser feliz, nem posso falar pra ficar no seu emprego porque ele é seguro. Cada um tem uma coisa na vida que grita forte dentro da gente e, se você acredita em intuição, eu recomendaria seguir isso – apesar de eu me achar um pouco covarde pra seguir meu próprio conselho.
2. Você não está sozinho. Nem um pouco. Tem um bando de gente com 20 e tantos anos passando pelas mesmas inseguranças que você. Se a geração que um dia vai dominar o mundo – sendo mãe, pai, chefe, empreendedor, grande artista, ícone do rock, coisa e tal – tá passando por isso, é meio impossível que a gente vá levar o mundo ao fracasso. Acho mais que a gente vai dar um jeito de salvar os nossos mundos particulares e coletivos de alguma forma.
3. Quem foi o idiota que determinou que a gente teria que escolher o que fazer com o resto das nossas vidas aos 20 e poucos, quando a gente mal sabe sobre a vida e sobre o mundo?