[Você pode ler este texto ao som de I Choose You]
Foi por causa do seu sorriso assumido de canto. De um jeitinho sacana de quem sabe (sabe?) que nasceu para ser livre, leve, solto e filho da puta. Foi por causa desse seu ar afirmando que consegue a mulher que quiser. Mas, principalmente, pelos seus abraços apertados de quem diz que eu sou um paradoxo sentimental: seu tudo e também nada. Que eu tô aqui agora, mas não preciso estar aqui pra sempre. Que no fundo você me ama, mas, da boca pra fora, não tem sentimento nenhum por mim.
Foram as discussões baratas que me dão vontade de te matar. Ser passional ainda é crime? As briguinhas por um ciúme besta que você nunca assume. E as vezes que você discorda só porque adora me ver irritada. Foi por causa dos pratos quebrados, das roupas que eu joguei pela janela e das noites em que eu disse para você nunca mais voltar. Mas voltei, não foi? Foi também pelos dias que você não voltou, pelas flores que você não deu e, além de tudo, pelas declarações silenciosas que emite em gestos, quando não grita amor, mas ama.
E foi pelo seu jeito de cuidar. De me cuidar. De perto, de longe, com os braços ao meu redor e só com os olhos. Eu nunca precisei de ninguém, mas de alguma forma eu me vi precisando do seu cuidado. E você me ganhou ali, quando viu a minha parte não-tão-segura-assim escondida por trás de paredes que aprendi a construir nas telas, talvez por falta de cor, talvez por falta de aquarela. Pena que me fiz em uma redoma de vidro que você quebrou.
Eles disseram que nunca daria certo. E foi um pouco por isso também. Porque eu sou teimosa, marrenta e quero sempre mostrar para o mundo que eu luto pelo o que eu quero. E eu lutei por você, o príncipe desencantado, que nem chegava a ser sapo, que, segundo eles, só tinha defeitos. Eu lutei por você enquanto você lutava com todas as forças para fingir que não me queria. Pra não demonstrar que, escondido, você estava ali me escolhendo também.
Foi porque você me desarmou (e me deixou te desarmar por completo). E nós dois ficamos desnudos e de peito aberto para o que a gente resolveu viver. Assim, contra tudo e contra todos – até contra nossos nós e nossas personalidades que não sobreviveriam no Coliseu.
Foi, principalmente, porque você não fez questão. Não gritou que me amava e, por isso, sem querer, derrubou os obstáculos. Me quebrou inteirinha para, depois, me reconstruir encaixando com você. E aí, parou de lutar e me deixou te fazer só meu.
Entendeu? Foi por isso.
Foi por isso que eu escolhi você.