Carta pra curar teu coração partido


[Você pode ler este texto ao som de 1901 na voz da Birdy]

E agora? Cê vai ou cê fica? O que cê vai fazer desse coração bagunçado que não sabe o que fazer da vida? Cê vai caminhar até a porta dum paraíso pra descobrir que não tinha jeito. Que de tudo que sobrou, esse teu aperto no peito é coisa tua e só tua. Que você tem que decidir se procura rumo ou vive debaixo do sol, esperando alguma coisa, alguma promessa, reza, crença jura (de amor) que vai se realizar e te conceder os pedidos.

O que te faz seguir assim é um palpite.

Tua bagunça tem reparo? Repara que eu não falo isso da boca pra fora, não, que isso, falo com a intenção de te ajudar, talvez guiar, por um caminho que ofereça conserto. Mas nem acreditar em destino eu acredito, imagina quem acredita na cura de um coração partido? Reconstruir as veias rompidas de uma hora pra outra é como crer em milagres e olha, se for da tua fé, acredita, deposita esperança em alguma coisa, se certifica de que vai funcionar e repara. Repara aos poucos pra não se esquecer de nenhuma brecha, repara que eu digo que não tem jeito, mas que eu te ajudo, te dou uma mão se precisar segurar a fita isolante. Isola, mas não se isola, entende? Às vezes faço discursos desconexos na esperança de mostrar alguma reflexão mas me perco. Me pego perdido e te encontro pelo caminho. Será que um dia alguém vai entender de verdade o jeito com que você move os olhos pedindo ajuda?

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O que eu posso oferecer é abrigo. Interessa?

Então me deixa ser claro e te explicar uma coisa: corações partidos são reparados com o tempo, com o acaso, com técnicas que a gente nem sabe se funcionam, mas tenta. Acho que na verdade eles se curam da tentativa. Ou nunca curam, a gente que consegue mentir bem pra gente e acredita. Cê mente bem? Mente pra si, mas não tenta mentir pra mim porque eu quero ajudar. As coisas aí dentro tão meio dilaceradas, tua bússola não funciona mais, não dá mais pra apontar pro norte. Então vai pro sul. Vai sentir algo gelado, frio, que peça abrigo e não dê. Sente um pouco do escuro, chora, vai, chorar faz bem e lava o rosto, deixa tuas marcas nas olheiras e põe pra fora. Eu acho que a gente não cura, a gente drena. Drena a tristeza e drena todo o resto até perceber que secou e pronto. Depois de secar, você volta aqui e me diz que não arde, mesmo que esteja ralado. Me diz que montou a bússola no sul e que aquilo lá virou um norte. Isso acontece muito, essa coisa da gente se reinventar, se realinhar, se descobrir do avesso. E faz bem porque a gente explora o tato no escuro. A gente explora os sentidos e põe o instinto pra funcionar mais do que o pobre coração.

Dia desses você volta e redescobre esperança no meio da dor. E me conta que era impossível ter visto antes porque a gente não enxerga bem quando é escuro. Me diz que não sabe pra onde ir, mas que agora a sensação é diferente: você quer ir. Talvez queira ir pra um lugar que não parecia claro, exato, bacana ou coisa e tal. Mas as suas coordenadas mudaram, tua tatuagem é outra, teus modos descobriram um novo jeito depois de drenar a angústia de um coração partido no passado.

E agora? Cê vai ou cê fica? Vê se escolhe seguir e finalmente se perder em mim.

bovo

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