[Você pode ler este texto ao som de Chet Faker – I’m Into You]
Ele é bem desenhado, das mãos aos calos, dos pés aos princípios, como se tivesse sido feito sob mágica: encomendado e talhado perfeitamente pra mim. Ele é um soneto de amor que durou mais do que as estrofes e veio parar no meu mundo real, escorregando pela boca enquanto eu deixava as palavras caírem até sambar de vez pra dentro de mim. Ele é cheio dos modos desordenados e sempre põe um pé na frente do outro, sempre abraço o mundo com as pernas, sempre anda com o coração na mão e vai ver por isso é que ele é o meu tipo exato.
Você só seria ele se me respondesse as perguntas com aspas, citando o mundo e me enchendo de referências, me botando de queixo caído por perceber que você sabe tanto (sobre os outros e sobre mim). Só seria ele se me dispusesse num jogo rápido de quem tira a roupa primeiro, de quem acompanha o fôlego num ritmo do chão, de quem arfa no pescoço e sabe mexer nas coxas sem ser invasivo. Você só seria ele se eu te desenhasse com o contorno do batom nos lábios.
Ele é todo esguio e escorregadio, me escapa pelas mãos e para na soleira da porta antes de me dar boa noite. Ele é uma agonia des-per-ce-bi-da que sobe, sobe mais um pouco, sobe até eu mandar parar e fica cutucando a garganta com marcas de mão no pescoço e no cabelo. Ele tinha tudo pra sufocar e não sufoca, me toca, me inspira e respira pra me botar no mundo de novo. Ele é aquela sacada genial que eu tive numa manhã de quinta-feira, é o meu bom humor e pode até falar pro meu chefe que a TPM não veio esse mês por causa dele. Porque ele tem dessas coisas de saber me adoçar mais que chocolate, e saber lidar com meu lado fera sem me dominar. Eu domino e ele sabe, sabe que tá dentro de mim, colado na minha visão panorâmica, palpitando na apreensão do meu peito enquanto eu troco de roupa e pisco pro espelho.
Você só seria ele se o seu romantismo ultrapassado reverberasse nos meus cachos, nos meus lisos, nos meus crespos e na textura da minha pele. Só seria se me contradissesse, me contrapusesse, se fosse do contra e me irritasse. Se me deixasse levar pra me encontrar gargalhando lá no horizonte, no espaço, nos limites de uma cidade qualquer ou no meu carnaval. Meu tipo de garoto me completa assim: com um sonho de Pierrot e um beijo de Arlequim.
No fim das coisas, você só seria ele se me amasse. Se me culpasse, me deixasse pra voltar, me tirasse do tédio, me dissesse as coisas todas que eu nunca espero que sejam ditas. Você só seria o melhor tipo de homem se fosse o meu tipo de garoto, de marasmo, de ventania de verão. E se entendesse que mesmo com turbilhão, calmaria ou primavera, eu vario. E varia também. Varia e não me avalia, varia e me puxa pra dançar.